"Todos os meus versos são um apaixonado desejo de ver claro mesmo nos labirintos da noite."
Eugénio de Andrade

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Assalto



Espessa é a noite
Que pelos vidros das janelas
Pelas frinchas das portas
Se vai esparramando
E aqui se instala
Onde das trevas a dor mais pesa.

Remeto-me dentro de mim ao esquecimento
Apagado de tudo o que pulsa lá fora
Intento calar os ecos que navegam no escuro
E me assaltam insidiosos as pernas
Subindo pelo estômago,
Se estendem aos braços, às mãos
E no coração e na cabeça ribombam.
Pressinto-os debaixo da pele
Lutando como mecanismo vivo
Levo a ponta dos dedos ao rosto
E é como se por debaixo dela
Eles lutassem entre si
Tais os altos e baixos em movimento
Que nela se formam.
São a prova de que deles me fizeram refém.

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