"Todos os meus versos são um apaixonado desejo de ver claro mesmo nos labirintos da noite."
Eugénio de Andrade

sábado, 15 de outubro de 2011

Viagem

Desfraldo as velas
Aparelho a nau
Seguro o leme
Rumo às estuosas
Procelas
Em teu corpo aventureiro
Emboscadas.

Penetro nas florestas luxuriantes
Que verdejam em teus olhos
Onde espreitam ansiosos
Gritos de pássaros tropicais
Adejos de coloridos tucanos
Murmúrios cantantes de cascatas
Miríades de matizadas mariposas.

Escalo erectas colinas
Orvalhadas por gotas de mel
Palmilho tuas curvas de seda
Saboreio néctares perfumados
Nos meandros do teu corpo
Em anelantes arquejos desperto.

Desço às grutas ocultas
Que o paraíso alojam
E peregrino perco-me
No santuário do teu corpo
Ainda ancorado.
E acendem-se roteiros na tua pele
Crescendo em ofegantes suspiros.

Zarpamos.
Enrolam-nos ondas aleivosas
Sacodem-nos em sufocantes abraços
Levantam-nos no ar e chicoteiam-nos
Gritos em tropel desenfreados
Suga-nos frenética girândola
Em infindável rodopio
Que gira, gira, gira
E nos projecta
No vazio.

Náufragos damos à costa
Ofegantes e apaziguados.
E há promessas de novas viagens
Nos dedos entrelaçados.