tag:blogger.com,1999:blog-70447304617233537662024-03-14T05:35:24.282+00:00Palavras brandidasEduardinahttp://www.blogger.com/profile/09317873005525507484noreply@blogger.comBlogger143125tag:blogger.com,1999:blog-7044730461723353766.post-27636492084034053292020-01-10T20:03:00.000+00:002020-01-10T20:03:04.649+00:00Assalto<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-BnzcK4ATgx8/XhjYO4rWPeI/AAAAAAAAAok/FeD-Ar-TdHAAWssFFOWZukJTUiQPIU9YgCLcBGAsYHQ/s1600/imagem%2Bdistorcida.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="897" data-original-width="620" height="320" src="https://1.bp.blogspot.com/-BnzcK4ATgx8/XhjYO4rWPeI/AAAAAAAAAok/FeD-Ar-TdHAAWssFFOWZukJTUiQPIU9YgCLcBGAsYHQ/s320/imagem%2Bdistorcida.jpg" width="221" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-weight: bold;">Espessa é a noite <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-weight: bold;">Que pelos vidros das janelas
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-weight: bold;">Pelas frinchas das portas<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-weight: bold;">Se vai esparramando<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-weight: bold;">E aqui se instala<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-weight: bold;">Onde das trevas a dor mais
pesa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-weight: bold;">Remeto-me dentro de mim ao
esquecimento<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-weight: bold;">Apagado de tudo o que pulsa
lá fora<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-weight: bold;">Intento calar os ecos que
navegam no escuro<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-weight: bold;">E me assaltam insidiosos as
pernas<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-weight: bold;">Subindo pelo estômago, <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-weight: bold;">Se estendem aos braços, às
mãos<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-weight: bold;">E no coração e na cabeça
ribombam.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-weight: bold;">Pressinto-os debaixo da pele<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-weight: bold;">Lutando como mecanismo vivo<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-weight: bold;">Levo a ponta dos dedos ao
rosto<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-weight: bold;">E é como se por debaixo dela<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-weight: bold;">Eles lutassem entre si<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-weight: bold;">Tais os altos e baixos em
movimento <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-weight: bold;">Que nela se formam.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Times New Roman",serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-weight: bold;">São a prova de que deles me
fizeram refém.<o:p></o:p></span></div>
<br /></div>
Eduardinahttp://www.blogger.com/profile/09317873005525507484noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7044730461723353766.post-67506177814215631852018-07-24T23:50:00.000+01:002018-07-24T23:50:39.514+01:00No fundo do poço<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-k06m0Gg3Y7g/W1esyUhkoeI/AAAAAAAAAlU/AiwDWDDm4rkZ_yGpCAor8od2HmKNUI6-gCLcBGAs/s1600/no%2Bfundo%2Bdo%2Bpo%25C3%25A7o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="200" data-original-width="200" src="https://4.bp.blogspot.com/-k06m0Gg3Y7g/W1esyUhkoeI/AAAAAAAAAlU/AiwDWDDm4rkZ_yGpCAor8od2HmKNUI6-gCLcBGAs/s1600/no%2Bfundo%2Bdo%2Bpo%25C3%25A7o.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
Ora, isto não é nada!...Estou lá
agora a esconder…É só porque…não é uma coisa bonita de se ver… e há pessoas a
quem faz impressão…Ai não se impressiona? Está bem, pronto! Já, já tratei, já!
Então, desinfetei com álcool, <i>Bétadine,</i> vê!...Hã…dói-me um bocadito,
agora já não é nada, mas na altura…não, menina, precisa lá agora de pontos…ia
lá para o hospital por uma coisa destas?! Falta-lhes lá a eles o que fazer…Isto
passa! Daqui a bocado, para fazer o jantar, o meu Abel ata-lhe aqui um plástico,
e pronto! Não!... menina, foi lá agora ele! O meu homem é um berrão, lá isso é,
mas, graças a Deus, nunca me tocou nem com um dedo!...Ameaças já fez muitas,
isso fez…às vezes cresce para mim de uma maneira…Mas é só da boca para fora…que
eu também lhe abro os olhos…Não me fico!... Olhe, sabe, são coisas que
acontecem…a gente às vezes está onde não devia estar, pronto! E depois…Isto é
uma vida…Para que hei de estar agora a contar coisas de quem nem me quero
lembrar? Para quê? Isto passa, pronto!... <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
Ah! menina, ele às vezes fica
assim doido, doido, parece que tem o diabo no corpo, nem o conheço…bem, a bem
dizer, já há muito tempo que ele não é o mesmo…E se eu lhe tenho amor! Criei-o,
então, desde pequenino, a ele e à irmã! Eram tão meus amigos! Quem havia de
dizer que ele se havia de tornar neste diabo? Eu é que os criei! Pois, coitadinhos,
quem havia de lhes valer?! Sem mãe, e o pai não presta para nada, um
criminoso…Ele nunca mais quis saber do rapaz…Nem os animais… Então, o pai,
aquele excomungado, esteve na prisão, bem pouco tempo, cá para o meu gosto…mas
isto agora é assim! Eles fazem-nas, passam um tempito na prisão e depois vêm cá
para fora, infernizar a vida da gente! <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
Então… olhe, acordou lá para as
três da tarde…parecia doido… andou não sei lá por onde até de madrugada, depois
de manhã, claro…não tem forças para se levantar…ai emprego…não! Às vezes
aparece aí com muito dinheiro, olhe, eu não sei onde o arranja, e compra
sapatilhas, camisolas, roupa de marca, tudo do bom, que custa uma fortuna, tem
um bom telemóvel, eu não sei mexer naquilo…uma…ai, com é que se diz…uma dessas
coisas grandes para ouvir música, faz um estardalhaço, que a gente fica com uma
dor de cabeça…isso! E vem com umas caixas que guarda no quarto, não sei lá o
que têm as caixas, ele fecha a porta do quarto à chave, o meu Abel já lhe disse
umas poucas de vezes que não quer a porta do quarto fechada, mas é como quem
está a falar para uma porta. Mas assim com vêm, também desaparece com elas num
instante… Mas como lhe estava a contar, o rapaz queria dinheiro, à minha volta,
“<i>ó avó, onde é que tens o dinheiro, </i>e<i> </i>eu<i> não tenho, não tenho,
</i>e ele<i> onde está a chave da gaveta?</i> <i>Não sei, não sei dela…,</i> e
eu com ela aqui por dentro, pendurada neste fio ao pescoço, olhe, pegou no
martelo da caixa das ferramentas do avô, e começou a bater com ele na gaveta da
mesinha de cabeceira onde eu guardo o dinheiro para as compras, para comermos,
está a perceber? A reforma do meu Abel fica na Caixa. Eu é que me fui lá
meter!... Pois não sei como foi…e deu nisto…Ai menina! Desculpas? Pediu lá
agora! Isso não é com ele! Olhe, depois desapareceu…não sei para onde foi… ele
ainda recebe um subsídio, mas estafa-o num instante, sabe? Depois, claro…mas eu
não lho dou…só uns troquitos, de vez em quando…O meu Abel nem sonha !...Ai!
então eu ia lá chamar a polícia? Para quê? Violência?! A menina sabe lá o que é
violência! Violência era aquela entre o meu genro e a minha filha…Ai! Minha
pobre filha!...Cá para mim o rapaz é um revoltado por isso mesmo! E a vida da
minha filha, ninguém lha volta a dar…e sabe, ninguém fica na mesma depois de
ver o pai dar um tiro na mãe mesmo à frente dos olhos, quem é que aguenta uma
coisa destas e fica assim…normal, não é?! Devia ficar na prisão para toda
avida, assim é que era…desgraçou a vida da minha filha, a dos filhos e a
nossa…Ora…a rapariga, nunca mais soube dela…o maldito veio buscá-la quando saiu
da prisão…já me disseram que a viram lá em Lisboa, que anda na vida, e eu,
olhe…nem sei…que o pai era capaz de a meter a ganhar para ele, disso não tenho
dúvida nenhuma, isso não tenho… <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
Agora o rapaz…se a polícia o
apanhasse aqui era uma desgraça!...Ele nem sequer pode pôr aqui os pés, menina…ele
tem que estar afastado de nós nem sei quantos metros, ou quilómetros, foi o que
o juiz disse da última vez que…<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
Bem, mas isso agora não vem ao
caso…Hum! Arranjaram-lhe um emprego, mas pensa que se aguentou lá?! Os
compinchas não lhe largavam a porta…Aqui não entram, mas assobiam de longe, e
ele fica todo alvoraçado, sai porta fora, e às vezes está dias seguidos sem
aparecer, olhe, eu fico aqui, com o coração num cesto… Quando volta, se lhe
pergunto alguma coisa, abre-me umas goelas, que eu sei cá…que me meta na minha
vida… Eu da vida dele nada sei, ele a mim não se confessa!... Quem?! Essas são
umas invejosas, umas más-línguas! Não podem ver o rapaz bem vestido, que anda
logo na droga! Credo! Não! Não acredito! Já, já esteve na prisão, mas olhe, se
quer que lhe diga, já nem sei bem…acho que foi por andar à pancada,
parece-me…lá o desafiaram, e ele respondeu…ele não é para ficar calado, lá
nisso, tem a quem sair, Deus me perdoe…<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
Bem… às vezes o meu filho vem
aí…é o meu filho do meio, o meu mais velho vive em Sacavém…<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<i>Ó mãe, vossemecê não pode ter aqui o Rafael, feche-lhe a porta, ele
que durma na rua!...</i>Então mas eu
lá tenho coragem, menina, diga-me lá, eu hei de fechar a porta ao rapaz? Ele
não tem mais ninguém, como já lhe contei, ele era tão meiguinho…E fecho-lhe a
porta como?! Eu lá lhe posso fechar a porta?! Ele tem uma força!...Olhe que
noutro dia empurrou-me, fui bater com as costas ali naquelas grades, está a
ver? Fiquei com os ferros todos marcados nas costas… o meu homem andou a
esfregar-me com um produto que comprou na farmácia, isto já vai fazer uns dois
meses…e ainda cá tenho dorido…estas coisas levam o seu tempo…<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
Ai, meu Deus, ai meu Deus, não
sei quem nos há de valer!...<o:p></o:p></div>
</div>
Eduardinahttp://www.blogger.com/profile/09317873005525507484noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7044730461723353766.post-81700280348673839102018-06-21T15:51:00.001+01:002018-06-21T15:51:30.430+01:00Sonhos perfeitos<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-NpAOZDY6Y1I/Wyu6yVIkCPI/AAAAAAAAAkc/jT8OyyvEaZMohD24FVQuLYLBX5TYwn4jACLcBGAs/s1600/Sonhos%2Bperfeitos.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1188" data-original-width="891" height="320" src="https://3.bp.blogspot.com/-NpAOZDY6Y1I/Wyu6yVIkCPI/AAAAAAAAAkc/jT8OyyvEaZMohD24FVQuLYLBX5TYwn4jACLcBGAs/s320/Sonhos%2Bperfeitos.jpg" width="240" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
<b><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Sonhos perfeitos<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%;">
Na penumbra branda</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%;">
Permanece solene o pranto</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%;">
De prata paramentado</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%;">
Presto, prendo os sonhos</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%;">
À pérgula que no meu peito
plantaste</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%;">
Prestes a perderem-se de tão
perfeitos</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%;">
Retorna o canto que precede</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%;">
A transmutação dos prados pardos</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%;">
Pressinto o seu pulsar primordial</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%;">
Subterrâneo e secreto</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%;">
Meus passos ora entrelaçados</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%;">
Perdem-se entre os pés das prímulas</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%;">
E penetram a terra tenra e terna</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%;">
Rompem dos pulsos ramos aéreos</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%;">
Repouso sereno da conversa dos
pássaros</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%;">
Desprendem-se as pálpebras pesadas.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%;">
Do sonho privada, parto para o
pesadelo</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%;">
Assim é o preço dos sonhos
perfeitos.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 200%;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
</div>
Eduardinahttp://www.blogger.com/profile/09317873005525507484noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7044730461723353766.post-66039739813558479632018-05-07T18:04:00.001+01:002018-05-07T18:04:46.124+01:00<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div style="text-align: justify; text-indent: 28.4px;">
<img src="https://lh3.googleusercontent.com/-N9tq3ALxD3I/WvCFnVQOSrI/AAAAAAAAAj8/AbjAj7XLGEUvp61K-U-Yzp3Xns0Z2ZUcQCEwYBhgL/h120/caminhando.jpg" /><span style="text-align: justify; text-indent: 21.3pt;"><span style="line-height: 150%;">O percurso do restaurante até casa foi doloroso e pareceu-lhe interminável.
Esforçou-se até ao limite para conter as lágrimas. Uma raiva surda
envenenava-a, e, quanto mais remoía, mais os insultos lhe cresciam no íntimo.
Insultos gritados no interior de si, e </span><span style="line-height: 24px;">injetados</span><span style="line-height: 150%;"> nas suas veias, inundando-lhe
todas as fibras daquele veneno. “Cabra, cabra, cabra, grande vaca, grande vaca,
“gritava no seu interior.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Alfredo estacionou o carro à frente da garagem, ela abandonou o carro
precipitadamente, subiu a correr os degraus de granito que a conduziam até à
entrada, abriu a porta com nervosismo, e, mal se viu a salvo, um profundo grito
libertou-se das entranhas. Subiu as escadas em direção ao quarto, lançou a
carteira para longe, atirou-se para a cama, e chorou, chorou, chorou, batendo
com os pulsos na almofada. Logo atrás, o marido, perturbado, veio no seu
encalço.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__ Mas o que é que tu tens? Não te entendo! Francamente, essas mudanças
de humor…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__Desculpa, desculpa, não tem a ver contigo! Preciso de desabafar! __ foi
dizendo por entre as lágrimas.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__Não percebo por que estás assim! Não vi nada que justifique esse teu
estado! </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__Mas eu vi. Vi e ouvi. Deixa-me estar, por favor! Se estou assim, é
porque lá no restaurante, tive que me conter para não me saírem certas palavras
da boca.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__Mas o que aconteceu no restaurante?</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__A tua mãe…a tua mãe é má, má, má, má…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__ Olha se eu me puser a dizer o mesmo da tua, gostavas?</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__Eu conheço os defeitos da minha mãe, e tenho abertura para lhe dizer o
que penso, e, às vezes, no calor da discussão, elevar a voz, e fica tudo bem…
Mas à tua, não lhe posso dizer o que sinto…Por isso estou assim. Deixa-me com
as minhas coisas, por favor!</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__Mas esses alterações de humor…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__Por favor, já não posso chegar à minha casa, ao meu porto de abrigo, e
desabafar? Se não o posso fazer aqui, para onde vou? Sinto-me como uma panela
de pressão à qual é preciso tirar o vapor, para acalmar…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__Está bem, pronto, mas isso não me parece muito normal, não entendo…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__ Não espero que entendas, são conflitos de mulheres, de noras e sogras,
pronto, é isso, coisas de noras e sogras…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Ele saiu do quarto, enquanto ela desabava e se desfazia num mar salgado.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Passados uns minutos ele voltou. Circunspecto, e algo amuado, disse:</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__Vou dar uma volta de mota. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Íris não respondeu. Também lhe apetecia. Fazia-lhe bem. Espairecia, e
aquela raiva sumia-se. Não! Ia ficar. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Ele trocou de roupa e saiu.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Começou, então, a passar em revista os acontecimentos no restaurante.
Tinha tudo corrido normalmente. Até as habituais trocas de palavras pouco
cordiais entre ela e o filho. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
O Miguel pediu água gelada, quando era habitual pedirem água à
temperatura ambiente. Ela olhou para ele, bem nos olhos.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__A avó gosta de água gelada. Ela só bebe água gelada. Em casa também. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Íris não disse nada. Rodeou com as mãos o copo de água, na tentativa de o
tornar menos frio. Há já algum tempo que não bebia água gelada, desde que lera
sobre os benefícios da água morna, ou à
temperatura ambiente. E sentia-se bem com isso.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Pouco depois, também o marido observou.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__Detesto água gelada. Só gosto de água quente. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__Sais à tua tia Silvaninha _observou D. Ilda com um sorriso.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
E o almoço foi correndo e a conversa fluindo. O Miguel muito solícito com
a avó, como sempre, servindo-a e mimando-a. A determinada altura falou-se num
primo que estava de férias na aldeia, aproveitando também para fazer férias dos
pais, que tinham ficado na cidade. Ìris observou que o rapaz tinha feito algumas
cadeiras do curso que retomara após alguns anos, que não sabia se já tinha
acabado, e que as férias seriam merecidas.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__Com curso ou sem curso, com aquela idade, muito dificilmente arranjará
trabalho, no momento atual! __comentou o
marido</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__ Não interessa! Mas aproveita o tempo para fazer alguma coisa
proveitosa, e que acho que lhe faz bem à autoestima. __contrapôs ela.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Falou-se que o rapaz andava a fazer limpezas na casa da aldeia, para
receber as filhas, enquanto a ex-mulher ia de férias.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Mais uma vez, ela concordou. Era natural o rapaz querer agradar as
filhas.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Mas D. Ilda empunhou o seu aguilhão, fez um dos seus trejeitos
recorrentes, a boca num arco com os cantos descaídos, desdenhosos: </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__Coitado! A mãe não o soube educar, e ele também não sabe educar as
filhas! </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__Certamente que ela o educou pensando que fazia o melhor. Os pais amam
os filhos incondicionalmente, e fazem sempre o que julgam ser o melhor para
eles_ ripostou Íris</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Foi então que a grande educadora, atirou, dirigindo-se à nora:</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__ Então porque é que a menina e o seu filho estão sempre a discutir ?</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
A cabra não podia ter atingido ponto mais sensível. Essa era uma grande
mágoa que ela transportava, agora já sem doer tanto, mas que aquela mulher má o
dissesse como se fosse por inépcia sua relativamente à educação do filho, isso
não lho admitia, isso não! </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Respondeu-lhe que isso era verdade, sim, mas que nunca admitiria que
alguém o ofendesse na sua frente, porque o amava incondicionalmente, e era uma
leoa a defendê-lo. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Mas não foi além disso. Dona Ilda não iria entender. Era uma ignorante
emocional. A conversa prosseguiu, sem a sua participação. Sentiu uma onda de
calor subir-lhe ao rosto. Pressentiu que se ia desfazer em lágrimas. Respirou
fundo, apertou o nariz, e a sensação passou.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Ainda bem que lhe não respondeu.
Não valia a pena responder a esta mulherzinha má, sacana, cabra, cabra, cabra,
que educou os filhos debaixo da pedagogia do terror, humilhação e chicote, que
partia para férias deixando-os entregues a si próprios, que foi sempre fria e
incapaz de lhes dar carinho.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Gostava de lhe ter dito duas verdades. Mas não disse. Gostava de lhe ter
dito que ela, a sogra, tinha uns filhos
de ouro que não mereceu, que, se eles eram extraordinariamente respeitosos para
com ela_ coisa que ela não era com eles, a quem estava sempre a desvalorizar, __
era porque eles, felizmente, tinham o bom feitio do bom do seu marido, que
nunca lhes tocara e os enchera de mimos. Que ele, o marido e pai dos seus
filhos, era também o pai invejado por todos os miúdos do bairro, e ela era uma
megera que ninguém gostaria de ter por mãe. Que agora, depois de velha e eles
adultos, chantageava os filhos para continuarem a gravitar à volta dela, que
acorriam a sua casa mal ela se lamuriava. Que isso acontecia também porque eles
tinham mulheres compreensivas, que os deixavam à vontade para continuarem a
mimá-la, como sempre fora. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Que ela e o filho discutiam, sim. Que muitas vezes, depois de terem
discutido, ela sentia um misto de mágoa e orgulho; mágoa pela incapacidade de
ambos manterem uma conversa sem se exaltarem, orgulho por ele ser detentor de
uma capacidade de argumentação que ela não tivera a oportunidade de aprender
nem desenvolver. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Que ela e o filho discutiam, sim, por vezes demasiado energicamente para
o seu gosto, mas porque o educara no sentido de ser uma pessoa sem medo, que
podia expressar livremente o que quisesse, e que o podia fazer com ela, sempre,
sem que deixasse de o amar por isso, ao contrário da megera, que os educou hipocritamente
para não dizerem o que pensam, numa moral do parece mal, regida por princípios
caducos em que os mais velhos, principalmente os pais, têm sempre razão, e não
se podem defrontar. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Mas que a ela, a dona Ilda, os filhos lhe não respondiam porque os
argumentos dela eram falsos, desonestos, e não valia a pena desperdiçar
energias encetando uma conversa que nunca seria saudável, batalhando os argumentos dela com os apresentados por eles…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Por isso, ainda hoje, são incapazes de a confrontar e calam-se, muito embora
não concordem com aquilo que ela diz, nem com aquela moral decrépita Calam-se,
para a pouparem à humilhação de terem que desmontar as suas desculpas, os seus
argumentos desonestos, falsos, incoerentes, facilmente desarmáveis, e a verem
reduzida a uma mentirosa manipuladora. Calam-se, porque, apesar de terem sido
educados por ela, a amam, e são intrinsecamente bons, pois foram herdar o
carácter ao pai (graças a Deus). </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Mas isto nunca lhe dirá. Porque ela, a sogra, nunca o compreenderia. E
porque ela, a nora, é muito melhor do que ela. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
E porque depois deste desabafo, a raiva já se foi. </div>
</div>
Eduardinahttp://www.blogger.com/profile/09317873005525507484noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7044730461723353766.post-2585299368474519302017-08-09T20:38:00.000+01:002017-08-09T20:38:45.189+01:00Nem olhaste para trás...<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-xDZoRO7mxR0/WYtkKbGoxlI/AAAAAAAAAio/-QaFQJsKkcsRWj-z68m1cP6v-cE3fgRWACLcBGAs/s1600/partida.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="833" data-original-width="1500" height="177" src="https://2.bp.blogspot.com/-xDZoRO7mxR0/WYtkKbGoxlI/AAAAAAAAAio/-QaFQJsKkcsRWj-z68m1cP6v-cE3fgRWACLcBGAs/s320/partida.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Esperas-me à entrada da nossa casa</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
A casa que ambos construímos com
alma</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
A alma da nossa casa habitada em
nós</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Os nós com que prendemos os sonhos</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Que esvoaçavam iluminados pela lua</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
A mesma lua que desenha as tuas
coxas altas</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Na camisa de noite transparente</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Transparentes os teus olhos</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Enquanto no coração se atropelam </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Espessos e profundos presságios</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Fitas a noite incendiada de desejos</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Desejos flamejantes em tropel </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Na noite solitária. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Ainda virás à porta da nossa casa</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Sete noites a fio</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Uma noite a seguir a outra noite</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Sondando a escuridão</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Os teus pés descalços caminham </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Sobre um tapete de vidros</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Mas tu nem notaste</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Fizeste a mala e partiste nessa
noite</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
A nossa casa ruiu atrás de ti</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Nem olhaste para trás.</div>
</div>
Eduardinahttp://www.blogger.com/profile/09317873005525507484noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7044730461723353766.post-87473884039526762582017-07-24T15:25:00.000+01:002017-07-24T15:25:03.959+01:00Aqui houve faísca<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-HBmGzC82_N8/WXYBmUckDgI/AAAAAAAAAiQ/3CHtZB72qyEagA44mR_QITVY5NwRJ2FowCLcBGAs/s1600/bonecos%2Bdo%2Bamor.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="708" data-original-width="960" height="236" src="https://4.bp.blogspot.com/-HBmGzC82_N8/WXYBmUckDgI/AAAAAAAAAiQ/3CHtZB72qyEagA44mR_QITVY5NwRJ2FowCLcBGAs/s320/bonecos%2Bdo%2Bamor.jpg" width="320" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNoSpacing" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: -2.0cm; margin-right: -2.0cm; margin-top: 0cm; text-align: center;">
<span style="font-size: 12.0pt;">Aqui houve faísca<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">
Perto das dez da noite partimos, em direção aos bares e restaurantes da
zona histórica que haviam sido selecionados. Íamos cheios de entusiasmo, com a
adrenalina a injetar-nos a energia de que todos precisávamos, depois de um dia
de trabalho intenso. A baixa de última hora da mentora deste projeto, posto que
lamentássemos o que a motivou, não logrou refrear-nos o entusiasmo, já que foi
compensada por um amigo e companheiro amante do teatro, tal como todos nós.
Seguimos, subindo a rua, o ardina lançando o seu pregão, o instrumento musical
acariciado pelos lábios da L., que acorda em mim reminiscências da minha
infância: o homem dos sete ofícios a trazer com ele as chuvas de outono, ao
mesmo tempo que calcorreava as ruas da terra onde nasci, e o som da música a fazer surgir das portas mulheres com os seus guarda-chuvas a precisarem de um
fecho ou uma vareta, facas, tesouras, foices e gadanhas a suplicarem por um
novo fio, pratos e travessas partidos a aguardarem o abraço que as voltaria a
integrar ao uso, farrapos vendidos ao quilo, panelas e tachos a pedirem um
pingo de solda que as devolvesse às tarefas para que haviam sido concebidas… <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">
Logo de seguida, a canção do “ Amor de Perdição”, colhida ao vivo da boca da minha mãe, ainda de boa memória, a cortar a noite calma e fria, nas nossas vozes não
muito afinadas. Transeuntes ocasionais mimavam-nos com sorrisos, olhares
curiosos e divertidos. Ostentávamos orgulhosamente os bonecos que nós próprias
confecionáramos, e assumimos as personagens de saltimbancos e titereiros. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">
Entrámos no primeiro bar. Receção calorosa, atenta. Correspondemos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">
O 2º local que nos haviam proposto, estava, àquela hora, deserto.
Foi-nos sugerida a visita a um outro. Bem sabíamos ser este um restaurante não
acessível a todas as bolsas. Enfim…talvez numa ocasião especial. Mas íamos ali
para fazer o nosso trabalho.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Instalámo-nos nas nossas posições e
demos início à função. Apenas três mesas ocupadas, uma das quais central,
grande, redonda. As conversas que detinham, ficaram, por momentos, suspensas. Mas
também os seus ocupantes pareceram terem ficado, também, suspensos de viver,
sentir, ouvir, rir, olhar. De facto, os ocupantes da mesa que estavam de
costas, de costas ficaram, sem se virarem para os atores que tomavam como suas
as peripécias das personagens do “ Amor de Perdição”. Saímos, algo desiludidos
com a frieza e indiferença. Quando se põe amor, entusiasmo, energia naquilo que
se faz, espera-se, ao menos, um olhar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">
Esta indiferença consolidou em nós aquilo que já várias vezes havíamos
experienciado: as pérolas são mal empregadas é naqueles que consideram que o
seu estatuto lhes permite olhar os outros com sobranceria, nos que passam pela
vida ostentando a máscara que nunca abandonam, que se não permitem sonhar, rir,
talvez receando dar razão ao aforismo “ muito riso pouco siso”, sem se darem
conta de que o rei vai nu… <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">
Mas foi-nos pedido que voltássemos no dia seguinte, a uma hora em que
apanharíamos os clientes a jantar. Voltámos. Desta vez, sala cheia. Em algumas
mesas a conversa continuou, como se nada estivesse a acontecer, o que obrigou
os atores a um esforço suplementar para se fazerem ouvir. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">
Porém, nessa chuvosa e nebulosa ilha de indiferentes, brilhou um
arco-íris: uma mesa onde uma criança acompanhada pelos avós carinhosos nos
seguia atenta e embevecida e cujo avô nos acompanhou à porta no final, querendo
saber mais sobre nós.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Seguimos para os outros dois espaços:
ambos cheios como um ovo, com clientes de diversos níveis etários. E aconteceu
a partilha: nós atuámos com a nossa entrega e energia e o público correspondeu
com a sua escuta ativa, o seu calor, canto, riso, participação, palmas. Aqui
houve faísca.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNoSpacing" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; margin-left: 17.0pt; margin-right: 17.0pt; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"> <o:p></o:p></span></div>
</div>
Eduardinahttp://www.blogger.com/profile/09317873005525507484noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7044730461723353766.post-31443037521595099552017-04-27T21:58:00.000+01:002017-04-27T21:58:24.877+01:00Meu amor<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-5Vtw73JLxX4/WQJapDHSujI/AAAAAAAAAhY/So9Yh-9TaQIwSFW23Mwa28EB6N6ISXPzQCLcB/s1600/velhinha.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://4.bp.blogspot.com/-5Vtw73JLxX4/WQJapDHSujI/AAAAAAAAAhY/So9Yh-9TaQIwSFW23Mwa28EB6N6ISXPzQCLcB/s1600/velhinha.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
Sabe, menina, a mim o meu homem nunca me chamou “meu
amor”! Não era dado a essas coisas. Ia direito ao assunto, e… pronto! </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
Ao princípio ainda me queixei…à minha mãe, e ela
apressou-se a dizer que ele estava no seu direito, as mulheres tinham que
aguentar e sofrer, que era assim desde o princípio do mundo e assim havia de
ser …</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
Ele era um pouco bruto, tinha que ser quando e como
ele queria, não sei se me entende, e depois virava-se para o outro lado, e
roncava…Eu ficava ali, no escuro, a tentar perceber como é que as raparigas
tanto sonhavam com o casamento, no meu tempo sonhavam, menina, acredite, e
depois era aquela coisa tão horrível!...</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
Mas o mudo, sim! Ai, menina, o mudo! Se não fosse ele,
nunca eu tinha percebido como “aquilo” afinal podia ser tão bom…Não, não me
arrependo!...quer dizer, em tempos, assim uns remorsos, por causa do
mudo…Morreu tão cedo…Pobre homem! Tão terno, tão carinhoso…tão…ai! Aquele olhar
dele, manso e sereno como as searas, a chamar-me de “ meu amor”!...Dava-me um
estremecimento cá por dentro… </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
Foi por isso que o meu homem…Ficou cego, quando
soube. Já andava desconfiado…e eu não tinha como negar…Ele tinha-me por
inteiro…O meu homem tinha o meu corpo, tinha direito a ele, mas o meu
coração…ai, esse pertencia ao mudo…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Ainda lhe procurei porque me não tinha matado a mim…O
mudo não fazia mal a uma mosca…Sabe o que me respondeu? Que eu era precisa para
cuidar dos filhos e das terras…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
A quem, ao meu homem? Não, menina, nunca o odiei por
isso…Ao princípio sentia assim umas ondas de raiva, mas depois passou-me!...E
ele não era mau de todo! Era trabalhador, meu amigo e dos filhos, mas não tinha
jeito para meiguices, pronto, era tudo à bruta! E eu até lhe queria bem…Não foi
só ele que se castigou lá na prisão, olhe que eu também sofri! E tive que criar
os filhos sozinha, a minha São ainda não tinha três anos…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Mas o meu mais velho, uma vez, entrou-me em casa, devia
ter aí…uns catorze anos, se tanto… olhou para mim cheio de ódio e gritou-me: “
Afinal o pai está na choldra porque vossemecê lhe pôs os chavelhos! “ Oh!
Menina, agarrei no cavalo-marinho, e malhei, malhei, malhei, até o diabo dizer
“ bonda!”Atão aquele manganão estava a viver debaixo das minhas telhas, e assim
me faltava ao respeito? Aquilo era entre mim e o pai dele! E o pai estava na
choldra, porque tinha assassinado um homem, pronto! Mas olhe, quer saber?
Deu-me uma coisa, atirei com o cavalo-marinho, e desatei a correr pelo campo
fora, que nem uma doida! Só parei quando já não tinha forças para dar nem mais
um passo…Senti as lágrimas a caírem-me pelos queixos. Depois começou a chover,
e fiquei ali a receber aquela água toda, como se precisasse de lavar a alma. E
tomei uma resolução: entrei na ribeira, e fui caminhando pelo açude adentro. Já
tinha a água pelo pescoço, quando parece que levei uma sacudidela, olhe, há
momentos do diabo, mas a gente também os vence…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
A menina vai lá botar isto tudo? Mas não prante lá o
meu nome, não? Envergonho-me! Atão está bem.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Quando o meu homem saiu da prisão, veio para casa,
pois atão! A casa era dele e minha, e eu não sabia o que ele queria fazer. Era
o que ele quisesse. Era o meu homem, o pai dos meus filhos, recebi-o na igreja,
para o bem e para o mal, até morrer. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Ora, menina, atão, aquilo com o mudo aconteceu,
pronto! A gente não pensamos nestas coisas, são tentações, e quando se vai a
ver, já está feito! Ai! Mas fui tão feliz com ele! Tinha umas mãos! Ai, ele
sabia, ele sabia como se fazem as coisas! Sabe, eu acho que tudo acontece porque
tem que acontecer. Não há volta a dar-lhe! Ao princípio revoltei-me muito, mas
depois aceitei. Tive tempo para pensar, para pensar muito! O mudo ensinou-me a
amar de uma maneira diferente…e vê, depois do meu homem sair da prisão, ainda
nasceu o meu Henrique…O meu homem mudou …tornou-se mais atencioso comigo, na
cama, quero dizer…Não, nunca me chamou “ meu amor”, mas pronto, tinha um jeito
diferente, mais preocupado com o meu sentir, mais desejoso de me fazer a
vontade, para eu…enfim…sabe o que eu quero dizer, não sabe? </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
A minha mãe, coitada, nunca soube como é
uma mulher gozar com um homem! Eu fui feliz com dois…Com o meu homem, só depois
de ele sair da prisão…Atão foi assim: quando veio, foi dormir num divã que
tínhamos no sótão. Nem nunca falámos do mudo…Eu punha-lhe o comer à frente,
tratava da casa, e ele lá ia prás terras, como se nada tivesse acontecido. Não
falávamos muito, ele nunca foi de grandes conversas… Andámos nisto à volta de
meio ano…Uma tarde, estava eu a pilar umas favas na cozinha, e sinto um olhar
em cima de mim. Levantei a cabeça, e lá estava ele na soleira da porta, a olhar
para mim muito sério. Eu olhei também para ele, e ficámos a olhar um para o
outro uma eternidade. Não dissemos uma palavra! Olhe, não sei como aquilo foi,
quando dei por mim, estávamos os dois a rebolar no chão …É como lhe digo! Ai
que risada! A partir daí veio prá nossa cama, e olhe, foi até morrer… Nunca me
chamou “ meu amor”, mas apanhou-lhe o jeito!</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
O mudo entrou na minha vida para eu ser feliz!
Nunca o esqueci, nem nunca vou esquecer! Olhe que já lá vão mais de 60 anos! Ai!
O que é a vida! Tenho saudades dos dois por igual! E nunca me arrependi de
nada! Ó menina, não ponha o meu nome no livro, pelas alminhas! Não quero cá
agora problemas com os meus filhos, ainda era o que me havia de faltar! </div>
</div>
Eduardinahttp://www.blogger.com/profile/09317873005525507484noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7044730461723353766.post-23897216138661239552017-01-08T15:35:00.000+00:002017-01-08T15:35:08.323+00:00Com a respiração...<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-U0kHzvs6Tyc/WHJbdOpResI/AAAAAAAAAgs/4EGsaIa_F_0XDma-2Cn83VBSkV8cSFIUQCLcB/s1600/Mar%2B2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://1.bp.blogspot.com/-U0kHzvs6Tyc/WHJbdOpResI/AAAAAAAAAgs/4EGsaIa_F_0XDma-2Cn83VBSkV8cSFIUQCLcB/s1600/Mar%2B2.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Com a respiração </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Entrecortada </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
De silenciosos temores</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Abro-te uma brecha </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Na alma parda da noite.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Nunca é demais </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Correres ao sabor do vento</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Sentes </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Dormentes e tensos </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Os afagos secretos</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Impregnados </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
De líquidos acenos</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Rabiscados no fragor das ondas</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Também os violinos me crescem nas
mãos</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Como saber quando parar</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Agora que já nem o sonho </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Me espanta nas manhãs</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Sonolentas que te remeto. </div>
</div>
Eduardinahttp://www.blogger.com/profile/09317873005525507484noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7044730461723353766.post-28443129442836966742016-10-26T17:51:00.003+01:002016-10-26T18:11:08.738+01:00O Gato<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div align="center" class="MsoNormal" style="mso-outline-level: 1; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-a9GEMd2Ql0I/WBDi7RECFoI/AAAAAAAAAgI/2fHT03i5M5csrBIAMZ7KJUzGdx0iKDmAgCEw/s1600/gato_preto_.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="https://3.bp.blogspot.com/-a9GEMd2Ql0I/WBDi7RECFoI/AAAAAAAAAgI/2fHT03i5M5csrBIAMZ7KJUzGdx0iKDmAgCEw/s320/gato_preto_.jpg" width="320" /></a></div>
Há algum tempo que me debato entre a vontade de ter
um gato, e o medo de, por qualquer motivo, vir a sentir que abri portas a um
empecilho de que não me apetece cuidar. Sempre que aparece algum artigo que
fala de gatos, leio, com curiosidade, vou-me apercebendo da grande
espiritualidade que lhes é atribuída, e vou-me deixando conquistar pela
personalidade destes bichanos. <b> <o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
Mas a decisão tarda a vir. De vez em quando, aparece
uma ou outra amiga a oferecer-me um bichano. Tenho respondido que gosto deles
pretos. Desta vez, a oferta era irrecusável: um gatinho preto, de olhos verdes,
manso (por enquanto), estava pronto a ser por mim adotado.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
Cortei-me. Consultei o meu filho, que se mostrou
favorável ao acolhimento de um novo membro na família. Consultei a minha filha,
que mostrou uma grande abertura, confessando como também ela gostaria de ter
um, mas como o marido é alérgico, está fora de questão. Mas também me alertou
para o caráter imprevisível de alguns deles, dando-me referências de bichanos
que pertenciam a algumas das suas amigas. Uns meigos, outros completamente
malucos e agressivos... É preciso certificar-me da índole do animal. Fora isso,
são muito independentes, não dão trabalho, ficam sozinhos por períodos curtos…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
Mas, pensei: e se adoece? E se se revelar deficiente,
com o de uma das suas amigas? Se tiver um gato, tenho que ser responsável por
ele, pensar que, nos próximos …vá lá…15 anos, estou de vida atada a um gato…Não
quero ter de devolver o bicho…Se tomar essa responsabilidade, tem que ser para
o melhor e para o pior, até que a morte nos separe, a dele, ou a minha. Pois…bem
sei que estas promessas se podem violar… Mas não quero ter que me divorciar de
um gato, pronto! Perguntei ao meu marido. Ficou ligeiramente alterado, enquanto
me dizia que, se eu tomasse essa decisão, o gato era exclusivamente meu, não
queria saber da existência do animal, eu é que dava comida, cuidava, levava ao
veterinário… Sabia muito bem como eram as coisas, o que tinha acontecido com a
cadela, que era minha, mas depois ele é que teve de cuidar…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
Respondi-lhe que a cadela tinha vindo para casa a
conselho do pediatra, por questões terapêuticas…Era benéfico para um
desenvolvimento saudável dos miúdos, partilhar a responsabilidade de um animal.
A cadela não era minha, era deles. Mas, de facto, quem tratava, era eu. Até
ficar farta de estar constantemente a limpar a trampa que ela fazia, pois nunca
a consegui educar a fazer as necessidades num sítio certo.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
Bom. Decidi, então, que não ia haver gato. A nossa
filha quis saber porquê. Eu comecei a explicação: porque o pai…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
O meu marido innão gostou.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
__Alto lá! Não é porque eu…Se quiseres assumir,
assumes, mas o gato, para mim, não existe.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
__Então, e nós somos o quê? Eu vivo contigo, ou vivo
com o vizinho? Não somos uma família? Eu só traria um gato para casa, se tu
aceitasses…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
__Pois, com a cadela…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
__Mas a cadela foi diferente…Tu não querias, mas eu
achei que era importante para os nossos filhos…E tu acabaste por aceitar e gostar
dela…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
A conversa ficou por aqui, para se não azedar.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
Hoje fazemos anos de casados.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
O meu marido apareceu em casa com um ar comprometido.
Trazia uma caixa com ele. Pousou-a em cima da mesa, e disse-me: </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
__Nem sabes o que aconteceu! A Dona Ermelinda, aquela
minha cliente que mora na aldeia, e nos costuma mandar ovos…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
__Sim!...__ respondi com um grande sorriso,
adivinhando o que vinha na caixa, enquanto o meu olhar ufano e surpreendido
passava da caixa para ele, e dele para a caixa. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
__Deu-te um gato!...__ rematei</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify;">
Ele limitou-se a assentir com a cabeça, lentamente… </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify;">
Dirigi-me à caixa, levantei a tampa, ansiosamente, e… lá estava um gato: um
gato bem lustroso, não preto, como eu sonhara, mas castanho. Castanho dourado.
Jazia no fundo da caixa, inerte, sereno, placidamente. Sem uma palavra, tirei o
gato da caixa. O gato era de louça.<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-a9GEMd2Ql0I/WBDi7RECFoI/AAAAAAAAAgI/QkctMqa_NKwNE3sGUPuFMwHfNtxm1UA4QCLcB/s1600/gato_preto_.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="https://3.bp.blogspot.com/-a9GEMd2Ql0I/WBDi7RECFoI/AAAAAAAAAgI/QkctMqa_NKwNE3sGUPuFMwHfNtxm1UA4QCLcB/s320/gato_preto_.jpg" width="320" /></a></div>
</div>
</div>
Eduardinahttp://www.blogger.com/profile/09317873005525507484noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7044730461723353766.post-46897882468652800662016-09-16T21:20:00.000+01:002016-09-16T21:20:24.307+01:00A vingança serve-se fria<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-cTnjbBN7K0o/V9xTovebF0I/AAAAAAAAAfw/wAZcEpuhoNAmWAyVatkOBM5DtSbHAFLgQCLcB/s1600/Ao%2Blume.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://2.bp.blogspot.com/-cTnjbBN7K0o/V9xTovebF0I/AAAAAAAAAfw/wAZcEpuhoNAmWAyVatkOBM5DtSbHAFLgQCLcB/s320/Ao%2Blume.gif" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
Sabia bem o quanto era o alvo da chacota deles todos. Gozavam com a sua
fala arrastada, com aquele som que lhe saía como se tivesse o nariz entupido,
com as palavras que se lhe enrolavam na língua e que ele não conseguia
pronunciar como os outros. Gozavam com a sua falta de jeito, com a lentidão com
que fazia as coisas, com os pensamentos que se lhe atropelavam e que não
conseguia explicar. Sabia muito bem que quando o convidavam para um copo e uma
sardinha na taberna do Ti Zé das merendas, era só para se rirem dele. Deixá-lo!
Fazia-se teso, como se aquelas gargalhadas de escárnio se lhe não entranhassem
na pele, nos ouvidos, no cérebro, e não lhe ficassem a martelar na cabeça,
impedindo-o de dormir logo, como gostava. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
Um dia…um dia…havia de se vingar…bem, ele lá se ia vingando à sua
maneira, rindo-se com eles das suas próprias incapacidades. Mas, pelo menos,
não se deitava com a barriga vazia. Dava-lhes o que eles queriam. E recebia o
que lhe fazia falta. Mas eles é que perdiam, sem se aperceberem que até
exagerava nas palermices, inventava coisas que não fazia, armava-se num trapalhão
ainda maior do que era. E ao arrancar-lhes tantas gargalhadas, que alguns até
diziam que se mijavam a rir, tinha a certeza de que o garrafão se ia inclinando
generosamente para lhe encher o copo sempre que estava vazio, que podia
surripiar à vontade as lascas de bacalhau, as iscas de presunto. E exagerava
nos olhos arregalados, na cara de parvo com que Deus o castigara, arrancando
gargalhadas daqueles alarves. No fundo, era a sua maneira de sobreviver, tal
como fazem os palhaços, no circo, ou os atores no palco.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
Ouvia-lhes os comentários nas costas, pensando talvez que os não ouvia,
ou não percebia o alcance do que diziam:</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
__O Tó Tonto é cá um personagem! </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
Pois bem! Que pagassem pelo tanto que se divertiam.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
Um dia convidaram-no para uma jantarada. Tinham caçado um javali.
Convidaram-no para ser o bobo que ia diverti-los a todos. Já sabia o que lhe
iam perguntar: como tinha morrido o avô.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
Ai o avô fazia-lhe tanta falta! Agora já não tinha ninguém! Tinha morrido
a única pessoa que o amava, que o conhecia por dentro e por fora, a única
pessoa com a qual não precisava se fingir, de se fazer mais tolo do que era. Era
tão carinhoso para ele! Mas às vezes, também um tanto impaciente. Dormiam
juntos, na mesma cama. No inverno, debaixo dos cobertores puídos,
confortavam-se com o calor do corpo um do outro. Durante o último mês, andara a
arrastar-se pelos cantos, chorava com uma criança, sem vontade de rir, de comer,
de dormir. E eles divertiam-se, quando lhe perguntavam como tinha morrido o avô
e ele se perdia em pormenores, contando tintim por tintim a agonia do avô,
trazendo até à praça a sua intimidade. Bem via como todos se riam, embora se
fingissem muito pesarosos, mas ele não conseguia deixar de falar nos últimos
dias da existência daquela alma que tanto o amara…Chamavam-no para ao pé deles,
e riam-se nas suas costas com o seu relato. Não sabe como se aguentou. Só
bebia, e, ao outro dia, quando acordava, todo vomitado, nem sequer sabia como
fora parar à cama.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
E agora convidavam-no para se divertirem à sua custa e do avô. Se
pensavam que iam levar a melhor, estavam enganados. Esperavam que ele chorasse
baba e ranho, que ficasse muito dolorido, enquanto eles enfardavam do javali.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
Ouvia-os cochicharem. Houve quem perguntasse que fazia ele ali. Que já
eram bocas de mais, que davam bem conta do recado sem aquela boca glutona a
roubar-lhes os bocados mais apetitosos. Que não se amofinasse, responderam, que
ele ia desatar a choramingar e não ia comer nada. Fingiu-se de tolo, como
convinha, papel, aliás, que ia muito bem com ele.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
Quando se atirou a um bom naco de javali, bem viu pelo canto do olho as
cotoveladas que alguns trocaram, numa chamada de atenção para o porem na ordem.
Veio então a pregunta que ele já esperava.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
__Então, Tó, conta lá, como é que morreu o teu avô?</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
E a resposta veio rápida e concisa, tão rápida quanto a sua deficiência
na fala lhe permitia:</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
__ De repente!</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
E ponto. E, enquanto os seus anfitriões se refaziam da estupefação, enterrou
os dentes no javali, e foi emborcando os copos de tinto. E, naquela noite,
ninguém mais lhe arrancou uma palavra, enquanto se não sentiu completamente
saciado. </div>
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;">Foi a sua vingança.<br />
<!--[if !supportLineBreakNewLine]--><br />
<!--[endif]--></span></div>
Eduardinahttp://www.blogger.com/profile/09317873005525507484noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7044730461723353766.post-26135298870397964322016-05-05T21:58:00.000+01:002016-05-05T21:58:13.890+01:00A mãe...<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://2.bp.blogspot.com/-gwW7RLMbHDA/VyuzTYzDoUI/AAAAAAAAAfE/HzMsZH9MOjcawkMMw3U0CTEsImWQGARgACLcB/s1600/IMG_0884.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://2.bp.blogspot.com/-gwW7RLMbHDA/VyuzTYzDoUI/AAAAAAAAAfE/HzMsZH9MOjcawkMMw3U0CTEsImWQGARgACLcB/s320/IMG_0884.JPG" width="320" /></a></div>
<div class="WordSection1">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
A mãe tem a dor da tua ausência </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
A morar com ela…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Tem o eco dos teus passos</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
A ressoarem nas escadas</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Aquele bater da porta </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Quando por ela entravas, </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
O eco da tua voz a chamar por ela.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Tem a dor da tua ausência </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Presente em cada gesto,</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Em cada um dos segundos </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Da sua vida </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Subitamente desabitada de ti…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Na casa instalou-se o vazio.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Eras tu o seu esteio, a sua força, </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
O seu porto seguro…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Mesmo nos teus gestos mais ríspidos,</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Nas tuas palavras mais impacientes,</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Estavas tu, inteiro e material.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Acudia ao teu apelo, </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Tocava-te, e estavas ali.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Custava-lhe a acreditar </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Que o seu homem tão forte </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Fosse feito de fraquezas.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
E quando te abraçava </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Sentia os teus ossos a furarem a
pele, </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
A confusão a turvar-te o discurso
sempre fluido, </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
A bengala mais pesada e titubeante…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Mas ignorava os sinais…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Partiste, e o vazio instalou-se. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Os gestos que ora inaugura </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
São tímidos, inseguros,</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Perdidos do caminho </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Que sempre para ela traçaste…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
E eu sinto-a frágil, inquieta,</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
A soerguer-se do pesadelo da tua
partida,</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Os passos inseguros, o olhar ainda
incrédulo…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Mas enquanto profundos suspiros </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Lhe sobem do peito, </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
E a sua alma desliza nas lágrimas </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Silenciosas que lhe correm pela
face, </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Vai lentamente tecendo </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Forças nas suas fragilidades</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
E eu sinto-me submersa de ternura…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Dói-lhe caminhar sem ti.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Dói-me sabê-la sem ti. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
Dói-me…dói-me…dói-me.</div>
</div>
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-language: AR-SA; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT;"><br clear="all" style="mso-break-type: section-break; page-break-before: always;" />
</span>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%;">
<br /></div>
</div>
Eduardinahttp://www.blogger.com/profile/09317873005525507484noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7044730461723353766.post-53138303717852312892015-12-14T15:10:00.001+00:002015-12-14T15:10:57.261+00:00O EGO<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-27rTDQN04Bo/Vm7bmlL-jTI/AAAAAAAAAeM/YPG7MughQSw/s1600/falsidade.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-27rTDQN04Bo/Vm7bmlL-jTI/AAAAAAAAAeM/YPG7MughQSw/s1600/falsidade.jpg" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 14.2pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Há pessoas com o ego tão
empolado, que acreditam que o mudo gira à volta delas e do seu umbigo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"> Há pessoas que fazem o que podem para sabotar
o trabalho dos outros.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Há pessoas que se julgam
imprescindíveis para que as coisas rolem. E se as coisas rolam, apesar da sua
demissão, hasteiam o discurso de preteridas, porque as suas opiniões iriam
estorvar as decisões dos outros.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Há pessoas que esquecem
que democracia não é os outros fazerem o que elas desejam.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Há pessoas que às vezes
precisam de largar a carga inútil para poderem avançar. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;">Há pessoas e pessoas.<o:p></o:p></span></div>
</div>
Eduardinahttp://www.blogger.com/profile/09317873005525507484noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7044730461723353766.post-78142537543219249152015-09-26T00:17:00.001+01:002016-01-25T00:29:22.786+00:00O Coelhinho da menina<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-Boz6xL_dQlU/VgXVqPjRfAI/AAAAAAAAAdk/o_wQB99vJlg/s1600/coelhinho-branco2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="256" src="http://1.bp.blogspot.com/-Boz6xL_dQlU/VgXVqPjRfAI/AAAAAAAAAdk/o_wQB99vJlg/s320/coelhinho-branco2.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Era uma vez uma menina que adorava bebés. Quando
alguém lhe perguntava: </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__ De que é
que tu gostas, minha menina? </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Ela respondia: </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__ De bebés. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Ou:</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__ O que é que tu queres? </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__ Ela
respondia:</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__ Um bebé. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Se lhe perguntavam em que estava a pensar, respondia:</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__ Num bebé. Eu queria um bebé!...</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Os adultos passavam a vida a fazer-lhe sempre as
mesmas perguntas, só para ouvirem as mesmas respostas de sempre. E achavam
muita graça à menina e riam-se com as suas tiradas. Mas a menina não percebia onde estava a graça.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Um dia a família foi visitar uns tios da menina, que
viviam muito looooonge, lá para os lados da capital. Esse lugar chamava-se
Lugar de Murches. A casa dos tios tinha um enorme quintal com uma horta. Nos
fins-de semana e depois do trabalho, o tio cultivava tomates, abóboras, uvas,
cebolas e outras coisas. Lá havia uma capoeira, um pombal, e até…vejam lá!
Coelhos. Em casa da avó da menina também havia capoeira com galinhas, mas a avó
da menina não gostava que brincasse com
elas, pois dizia que lhe podiam furar os olhos. E também havia um pombal
grande, que o pai tinha construído, com muitos pombos. Coelhos é que a menina
nunca tinha visto. E ficou ali, muito espantada, a olhar para eles. O tio
percebeu a admiração da menina, e, como gostava muito desta sobrinha, filha da
sua irmã mais nova, tirou da coelheira um coelhinho branco que mais parecia uma
bola de algodão, e colocou-o no colo da menina. A menina estremeceu de contente.
Começou a fazer-lhe festinhas, com toda a delicadeza, a dar-lhe beijinhos, a
falar com ele com toda a ternura. O bichinho aninhou-se no colo da menina. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
O tio da menina enterneceu-se, e disse: </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__ Olha, olha, o coelho gostou de ti. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
A menina não respondeu: abraçou-se ao coelho,
esfregou o rosto no pelo do animal, e só
o deixou voltar para a coelheira, quando o tio lhe explicou que o bichinho já
devia estar com saudades da mãe. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Nos oito dias que ali passaram, a menina só queria
estar junto daquele coelhinho, e o tio satisfez-lhe a vontade. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
O grande problema foi na hora de voltar para casa. A
menina agarrou-se ao bicho, e chorava, chorava, chorava.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__ Eu gosto muito dele! E ele também gosta de mim! Eu
não quero ir embora sem o meu Coelhinho! </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
O tio não conseguiu resistir à tristeza da sobrinha,
e declarou:</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__Bom, isto foi um caso de amor à primeira vista.
Pois o coelho é teu, minha joia! </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Quando a menina ouviu estas palavras, o seu
contentamento não teve limites. Abraçou o tio com um bracinho, enquanto com o
outro segurava o seu tesouro contra o peito.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
O tio arranjou uma caixa de cartão, e fez-lhe uns
furos para o coelhinho poder respirar. A
pequena bem queria fazer a viagem com ele ao colo, mas o pai disse que não, que
ele ia sujar o carro todo. E quando o pai dizia que não, era mesmo não. E a
caixa viajou no porta-bagagens da carrinha. A pequena estava constantemente
empoleirada no banco, sem tirar os olhos da caixa, com medo de que ela pudesse
desaparecer. Naquele tempo ainda ninguém tinha inventado as cadeiras nem os
cintos de segurança nos carros. A viagem era estafante, e ela acabou por
adormecer.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Quando chegaram a casa, onde decidiram colocar o
coelho? No pombal. A menina ainda sugeriu que o queria a dormir na sua cama, mas
o pai disse, meio sério, meio a rir: </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__ Tu não sabes o que dizes! </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
O pombal, além das casinhas para cada casal de
pombos, tinha um espaço muito grande, com rede a toda a volta, para eles poderem
voar, e, por isso, o coelhinho, ocupou uma das casinhas do rés-do-chão que
estava vaga. E ali ficou, em são convívio com os pombos. E a garotinha nunca mais
falou em bebés. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Certo dia, a menina ouviu uma conversa que a deixou
intrigada. O caseiro dizia ao pai que devia dar milho e água ao coelho, para crescer mais depressa e ficar muito saboroso.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
O tio tinha-lhe ensinado que os coelhos gostavam de cenouras,
alface, couves, e o Zé da Volta queria dar-lhe milho? Ela sabia muito bem o
que queria dizer saboroso, porque o pai, às vezes, quando estava a comer,
dizia:</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__Ó mulher, isto está muito saboroso! </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Mulher era como o pai chamava a mãe. E fazia uma cara
de contentamento, por isso, <i>saboroso</i> é uma coisa boa, uma coisa de que se gosta.<br />
A menina achava que o seu Coelhinho
já era bastante saboroso, pois ela gostava muito dele, mas, se ainda ia ficar
mais saboroso, melhor. Por isso não se espantou, quando o seu Coelhinho começou
a ser alimentado com milho e água. Ao princípio, o coelho parecia não gostar
muito desta dieta.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__ Olha, Coelhinho, é muito importante! Tens que
comer, para cresceres, e ficares muito saborooooso, sim?__ explicava a menina
com muita meiguice. E acompanhava as explicações fingindo levar o milho à boca
e mastigar.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__Tão saboroso! __dizia. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Parece que ele percebeu, pois acabou por comer e
nunca mais recusou este alimento. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Ela continuava a pegar-lhe ao colo, a fazer-lhe
festinhas, a dar-lhe miminhos e a conversar com ele. Mas cada vez era lhe era mais
difícil pegar nele. Estava tão pesado!</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Um dia a menina foi dar com o irmão a correr atrás do
seu Coelhinho, fora do pombal. E disse-lhe:</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__Não faças isso! O Coelhinho não gosta! Fica muito
cansado! </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__Ora! Quando for para a panela, o cansaço passa-lhe.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__Para a panela?! Ele não vai a lado nenhum sem mim!__ respondeu, ainda sem perceber o alcance das palavras do irmão. <span style="line-height: 150%; text-indent: 21.3pt;">Mas as gargalhadas que ele soltou feriram-lhe o coração.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__Também queres ir para a panela?! Em arroz de
cabidela?!</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
A menina ficou parada, de boca aberta, olhos escancarados, a olhar o irmão. De súbito desatou numa gritaria tão grande, tão grande, que a mãe acudiu.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__O que fizeste à tua irmã? </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__Eu? Nada! Só lhe disse a verdade!</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
A pequena soluçava, sem conseguir falar. A mãe
pegou-lhe ao colo, a tentar confortá-la</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-indent: 21.3pt;">
__Ele diiiiii….sse…que…o coooo…eeeeee…lhinho vai prá paneeeeee…laaaa…não vai,
pois, não, mamã? </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
A mãe lançou um olhar furibundo ao filho mais velho.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
E, enquanto lhe afagava os cabelos, dizia-lhe:</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__Sabes, filhinha, os coelhos são para comer, como as
galinhas…!</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__Mas o meu Coelhinho não, pois não, mamã? </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__Mas arranjamos outro, sim, meu amor?</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__NÃOOOOOOOOOOOOOO! O meu Coelhinho não!</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
E a menina continuava a soluçar.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__ Pronto, está bem, eu vou falar com o papá, sim? </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__Siiiiiiiiim ! O meu Coelhinho não, o meu Coelhinho
não.O
coelho da menina ficou em paz durante algum tempo. Certa manhã, a garota chegou
ao pombal para brincar com o Coelhinho, e ele não estava lá. A mãe então contou-lhe que o Coelhinho adoecera e morrera durante a noite e que o caseiro o levara,
para enterrar na quinta. Ela já vira alguns pombos-bebés mortos, e já sabia
que a morte apaga a dor das pessoas e dos animais. Por isso chorou, com
saudades do Coelhinho. E enquanto as lágrimas iam correndo pela carinha dela,
ela dizia para a mãe: <br />
__Olha, mamã....eu quero... um bebé, sim...?</div>
</div>
</div>
Eduardinahttp://www.blogger.com/profile/09317873005525507484noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7044730461723353766.post-38373551097346408042015-07-01T18:16:00.005+01:002015-07-01T18:16:55.756+01:00Pensão de luxo<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-zsnRclh28eA/VZQgbQefCxI/AAAAAAAAAck/sYbXHN_KZtU/s1600/pens%25C3%25A3o%2Bde%2Bluxo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="239" src="http://3.bp.blogspot.com/-zsnRclh28eA/VZQgbQefCxI/AAAAAAAAAck/sYbXHN_KZtU/s320/pens%25C3%25A3o%2Bde%2Bluxo.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
À Marimília foram sempre poupados os duros trabalhos do campo, demasiado
pesados para a sua humilde compleição. Mas desde novinha que se mostrou hábil a
preparar as refeições, a apurar os guisados, os assados, a escolher as ervas e
os temperos capazes de transformarem uma simples refeição em algo delicioso e
diferente, numa explosão de sabores irresistível e deliciosa. Das suas mãos
saiam os pratos mais apetitosos, aptos a satisfazerem os paladares mais
exigentes e apaziguarem os estômagos mais carentes.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
Fez-se cozinheira. Era requisitada para festas, casamentos, batizados…
Mas era preciso comer todos os dias, não só nos dias de festa. Especializou-se
na confeção de enchidos. Dos arredores, e até mesmo de Lisboa, onde os
conterrâneos apregoavam os seus dotes, chegavam encomendas das suas
maravilhosas chouriças, morcelas, alheiras e farinheiras, que não tinham igual.
Em breve era ela a única fonte de rendimento, o homem da casa, já que o seu não
conseguia granjear o sustento, sempre doente, com aquela tosse cavernosa a
encher as noites de arranques e roncos aflitivos. Marimília cedo percebeu que a
única filha, a pequena Alice, nunca herdaria a sua profissão. Por mais que
tentasse introduzi-la nos segredos da cozinha, a pequena não mostrava gosto nem
jeito. Enjoavam-na os odores dos temperos, deixava esturricar os refogados, os
estufados resultavam enxaguados e sensaborões, as sopas ora salgadas ora
insonsas…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
Nunca conseguiria sustentar-se, se ela não lhe encaminhasse os passos.
Que a pequena era bonita, disso não havia qualquer dúvida. E tinha qualquer
coisa, que nem ela saberia dizer bem o quê, talvez o olhar ingénuo, num corpo
que desabrochava bem provido de atrativos…Se as duas fossem espertas, esses
atributos poderiam conquistar-lhe um marido rico e uma boa vida… </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
Alice foi crescendo. A mãe ia-lhe alimentando a vaidade, e os luxos. A
rapariga até se julgaria rica, não fosse a imposição da mãe para ir trabalhar
na fábrica de lanifícios da aldeia, pois já tinha bom corpo para isso. Fez o
pedido ao sr. Antoninho, o dono da
fábrica. A rapariga aprendia bem, tinha uma letra bonita, e foi contratada para
ajudante do guarda-livros. O seu bom feitio, aliado a dois palmos de cara atraentes,
depressa conquistaram a atenção do patrão. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
Quando o sr. Antoninho enviuvou, Marimília entendeu que o destino estava
a jogar a seu favor, e começou a conceber o plano. Foi sondando a sua Alice,
enchendo-lhe a cabeça de sonhos, e dando-lhe instruções precisas de atuação. A
rapariga insinuava-se cada vez mais, mas o patrão continuava mergulhado na sua
mágoa.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
__ Tens que ser mais esperta, Alice! __dizia-lhe a mãe __Olha que não hão
de faltar por aí lambisgoias prontinhas para lhe deitar a mão! </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
__ Oh! Minha mãe! O pobre não tem olhos para ninguém, anda tristinho como
a noite! </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
__Pois sim, mas a tristeza não vai durar sempre, e quando acabar, tens
que estar lá, e ele perceber que te preocupas …</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
E Marimília fechava-se nos seus pensamentos, endrominando planos …</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
Até que um dia…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
__Olha, pergunta lá ao teu patrão se gosta de chouriças… </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
A resposta veio, célere.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
__ Adora, minha mãe!</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
__Pois então, quando vier o tal dia do mês, avisa-me!</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
__ O tal dia do mês?!</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
__ Sim, minha parva, as regras!...</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
Marimília acreditava que o caminho certo para chegar ao coração de um
homem era através do estômago, e, se ele se mostrasse renitente, havia sempre
outros truques para ajudar. Bastava uma gotinha da “história” de Alice, nem de
mais, nem de menos…apenas na conta certa. Resultava sempre.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
Num sábado à tarde, Alice apresentou-se no escritório da fábrica, onde
tinha a certeza que iria encontrar o patrão. Uma cestinha forrada com um
paninho de linho bordado, onde não faltava uma boroa, uma garrafinha de vinho
tinto, outra de aguardente para assar a chouriça na pequena assadeira de barro.
O decote mais aberto que habitualmente, como que sem dar por isso, a deixar
entrever carnaduras virginais…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
__ Para o patrão, um miminho só para o ver sorrir outra vez.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
Antoninho comoveu-se, e quis partilhar com Alice a iguaria…Mas a rapariga
apenas aceitou um cantinho de boroa, para não fazer desfeita, já que comia
tantas chouriças, que, por vezes as enjoava… </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
Ao chegar a casa, a mãe esperava-a como o caçador espreita a sua presa…Alice
trazia no rosto um rubor prazenteiro, e um sorriso largo…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
__ Então, ele comeu a chouriça?</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
__ Comeu, minha mãe, até chupou o baraço…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
__Está no papo, filha!...O homem é teu, é teu…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
E foi. Antoninho teve de vencer a resistência da mãe, da sogra, que com
ele cortou relações e exigiu que lhe fossem entregues os três netos.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
Do casamento nasceram duas meninas. Mas, apesar da vida desafogada, das criadas que lhe poupavam o trabalho da casa,
Alice, agora Dona Alicinha, não foi feliz. Antoninho adoeceu, com uma doença
estranha, incurável, que lhe tomou conta do espírito e lhe chupou o corpo, uma
doença que o tornou instável, louco de ciúme, violento. Dona Alicinha ficou
viúva. Após uma querela interminável pela posse dos bens, pouco mais lhe restou
que a casa onde vivia, e onde Antoninho já vivera com a primeira mulher. Era
uma casa enorme, recheada com móveis luxuosos, tapetes orientais, porcelanas,
salvas e faqueiros de prata, bragal de linho bordado, colchas de rendas, sedas
e cetins. Dona Alicinha viu-se a braços com um casarão que não sabia como
manter. Valeu-lhe o espírito empreendedor da mãe, que, mais uma vez, veio em
seu auxílio. Instalou-se no casarão, ou melhor dizendo, na cozinha. Em poucos
dias a decisão estava tomada, e, após um mês para reorganização dos espaços, a
casa da Dona Alicinha abriu-se ao público para receber hóspedes.</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
Não tardou que a fama das ótimas instalações e comida primorosa da casa
da Dona Alicinha chegasse longe. Para isso contribuiu, certamente, a calorosa
anfitriã. Nunca ali faltavam os que procuravam repouso, consolo, ou refrigério
no colo e nos braços sempre generosos da Dona Alicinha, que a nenhum hóspede
negava os seus talentos. <b><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></b></div>
</div>
Eduardinahttp://www.blogger.com/profile/09317873005525507484noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7044730461723353766.post-14812641720041091902015-06-22T15:34:00.001+01:002015-06-22T18:19:51.687+01:00O Elevador<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-kbdk3LewQAg/VYgcYFelELI/AAAAAAAAAcI/n9FlVeTYFKw/s1600/Avaria%2Bno%2Belevador.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="185" src="http://1.bp.blogspot.com/-kbdk3LewQAg/VYgcYFelELI/AAAAAAAAAcI/n9FlVeTYFKw/s320/Avaria%2Bno%2Belevador.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Um suor <span style="color: red;">frio</span> perlava-lhe a fronte. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Ficara novamente encurralada no elevador. A <span style="color: #00b050;">repetição</span>
desta situação provocava-lhe náuseas de <span style="color: #548dd4;">revolta</span>.
A administradora do condomínio andava a brincar com os moradores!
Pois!...Morava no rés-do-chão...</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
Furiosa, carregava no alarme ininterruptamente. Eis senão quando…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="color: #e36c0a;">Espanto</span>!...A porta do elevador
abriu-se!...</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
O vizinho do sétimo, um calmeirão gorduroso, barba por fazer, entra no
elevador e sussurra:</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
__Sua marota! Outra vez a avariar o elevador?!</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
E carrega no botão para a cave.</div>
</div>
Eduardinahttp://www.blogger.com/profile/09317873005525507484noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7044730461723353766.post-64762595478605600832015-06-17T13:38:00.001+01:002015-06-17T13:43:31.744+01:00O carrocel<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-T7CXZ6pSpJc/VYFp_aS6a7I/AAAAAAAAAbw/bJ-2glfe9fg/s1600/carrossel-de-madeira-do-brinquedo-6863325.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-T7CXZ6pSpJc/VYFp_aS6a7I/AAAAAAAAAbw/bJ-2glfe9fg/s320/carrossel-de-madeira-do-brinquedo-6863325.jpg" width="212" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
Já há algum tempo que eu estava naquele antiquário morrendo de tédio. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
Num domingo à tarde, um casal entrou na loja, e foi percorrendo com o
olhar as diversas antiguidades, velharias e quinquilharias.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
A mulher deteve-se em frente da prateleira onde eu estava exposto.
Olhou-me demoradamente, e eu senti um frémito de prazer percorrendo-me o corpo.
A atração foi mútua, pensei eu. Mas depressa os seus olhos se desligaram de mim
e passearam por outros objetos da loja. Senti-me desiludido. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
Algum tempo depois, a mulher voltou. O dono acudiu:</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
__É uma caixinha de música, sabia?</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
__ A sério?!</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
__Sim. Quer ouvir?</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
O dono pegou-me, e rodou o círculo onde os quatro cavalinhos de madeira
estavam implantados. Dentro de mim soltou-se a música de embalar, enchendo o
espaço de estrelas e encantamento.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
__É isto mesmo que eu quero! Rui, olha, para o Afonso!</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
__ Mas para quê?</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
__ Para ele adormecer… para se acalmar, quando…percebes?</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
Aquelas palavras eivadas de mistério e ansiedade aguçaram a minha
curiosidade. Antes de dar ordem para me embrulhar, as mãos da mulher afagaram
gentilmente o meu corpo, desde o pináculo, os rebordos, passando pelos
cavalinhos, pelo círculo branco que girava e comandava a música, até à base de
madeira pintada de vermelho.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
Não tardei a perceber. Mal chegaram a casa, a mulher correu a colocar-me
num quartinho infantil, numa estante de onde convergiam duas caminhas dispostas
em L. Nessa noite eu assisti ao ritual. Duas crianças em pijama entraram no
quarto, riram, brincaram, saltaram sobre os colchões. A mãe, a mulher que me
comprara, veio, contou-lhes uma história, aconchegou-os. Rodou o manípulo, os cavalos
giraram, e a música desprendeu-se. A menina adormeceu quase instantaneamente. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
O rapazinho soergueu a cabeça, e disse:</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
__Que lindo, mamã!</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
__Vá, dorme! __ cochichou a mãe, assentando um último beijo na testa do
menino.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
Apagou a luz, e deixou a porta do quarto entreaberta, permitindo que, do
corredor, uma ténue faixa de claridade se projetasse no tapete do quarto.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
Mas o rapazinho não adormecia. Constantemente chamava a mãe. A mãe
chegava, rodava o meu manípulo, e a música soltava-se. O menino acalmava-se
durante alguns instantes, a mãe saía, e tudo voltava ao mesmo. Finalmente
adormeceu. Tudo ficou em silêncio. Eu também adormeci.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
Fui acordado por uns gritos lancinantes a romperem a noite.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
O rapaz gritava, aterrorizado, clamando pela mãe. Ela irrompeu pelo
quarto, pegou no filho ao colo.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
A criança tinha os olhos abertos, mas fixos, parecendo não ver. A mãe
abraçava-o, proferindo palavras de conforto que não logravam romper o muro que os
separava.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
__ Acalma-te, meu filho, acalma-te! A mamã está aqui! A mamã está aqui!</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
Mas a criança continuava a berrar, encerrado no seu terror, percorrendo,
solitário, a escuridão. A mãe chorava, impotente e em pânico.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
Logo a seguir entrou no quarto o homem. Envolveu no seu abraço a mulher e
o filho, sussurrando: </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
__Sssssshhhhh! Sssssssshhhhh!</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
De repente o homem saltou em direção à estante, pegou-me, fez girar o meu
mecanismo, e a música fez-se ouvir. Pouco a pouco a criança foi-se acalmando, e
acabou por adormecer. Eu ouvia o choro silencioso da mãe e pressentia a sua
angústia e desespero. O homem saiu do quarto e a mãe ficou, culpabilizando-se,
talvez, por não conseguir que a sua voz chegasse ao interior do seu menino. Quando
a música parou, a mulher fê-la voltar ao início. Esta foi a primeira noite em
casa desta família. Foi, talvez, a mais dura de todas. Aquela que me fez
perceber a esperança que aquela mulher depositou em mim, quando me viu, pela
primeira vez, no antiquário. Muitas outras noites se seguiram. Todas as noites
eu trabalhava. De vez em quando repetiam-se estes episódios de terror. No dia a
seguir a estas ocorrências, o menino acordava cansado, mas não se lembrava de
nada. Eu fui percebendo a importância da minha música para aquela criança, mas,
sobretudo, para a mãe. O Afonso cresceu. Os terrores noturnos foram reduzindo
de frequência e intensidade, até acabarem definitivamente. E eu fui atirado,
pelas mãos do rapaz, para o fundo de um caixote, na companhia de alguns peluches,
<i>spiderman´s , e </i>tartarugas<i> Ninja.</i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
Durante alguns anos estive adormecido no sótão. Até que…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
Um dia a tampa da caixa onde estava guardado levantou-se, e uma réstia de
luz acordou-me. Ouvi uma exclamação de espanto. Era ela. Pegou-me com carinho,
fez girar o meu manípulo, e a minha música ecoou naquele exíguo espaço. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
Desde esse dia, tenho tido lugar de destaque entre as coisas de que ela
mais gosta: os seus livros, e outros objetos de estimação. Até já fui estrela
numa peça de teatro em que ela entrou, onde fui ovacionado de pé por uma casa
cheia. Voltei a sentir-me importante. Todos os dias sou acariciado pelo seu
olhar. E continuo, até hoje, a acalmá-la com a minha música, e, às vezes até, a
inspirá-la.</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 1.0cm;">
Sinto-me amado.</div>
</div>
Eduardinahttp://www.blogger.com/profile/09317873005525507484noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7044730461723353766.post-18345132954919676462015-06-03T20:15:00.000+01:002015-06-04T14:47:47.021+01:00A aldeia dos sonhos perdidos<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-1jxRgSjPrVQ/VW9RCAiUPXI/AAAAAAAAAbc/CjL1o3OXqds/s1600/sonhos.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://3.bp.blogspot.com/-1jxRgSjPrVQ/VW9RCAiUPXI/AAAAAAAAAbc/CjL1o3OXqds/s320/sonhos.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Naquela aldeia encaixada nas montanhas, só viviam
pessoas idosas, viradas para si mesmas, dentro das suas casas tristes, onde,
muitas vezes, nem a luz do sol deixavam entrar. Viviam entregues às saudades da
juventude, e, pouco a pouco, foram deixando murchar os sonhos que em tempos
moraram dentro delas. Até já se tinham esquecido de quando as varandas estavam
repletas de flores, e as melodias que lhes nasciam na alma, irrompiam pelas
gargantas e enchiam os campos de sons harmoniosos que ficavam a pairar no ar.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Nesse tempo, quando uma cantiga se escapava por uma
porta ou uma janela, logo outra respondia do outro lado da aldeia. E outra do
outro canto, e do outro, e do outro…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
E quando andavam na labuta nos campos, era a mesma
coisa. A atmosfera ficava prenhe da música dos pássaros e das cantigas que os
camponeses cantavam ao desafio. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Havia jovens e crianças na aldeia, nesse tempo.
Depois da escola as crianças corriam para a ribeira, para pescarem e nadarem.
Os mais velhos tomavam conta dos mais novos, e ensinavam-nos a nadar, a
escolher o melhor isco para as trutas, as bogas, os achigãs…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Nas longas tardes de verão, sentados ao sereno, sob a
luz das estrelas e do luar, ouviam-se histórias acompanhadas com música, que os
mais novos escutavam com atenção e religiosidade. No inverno, era ao calor da
lareira que os pequeninos adormeciam, embalados pelas histórias dos avós. Assim
aprendiam a interpretar os ciclos da vida, a escutar o palpitar da Natureza, a
amarem-na, a respeitarem-na. Era uma aldeia feliz…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Mas as crianças cresceram e partiram, levando os seus
sonhos na bagagem. A escola fechou, as ervas tomaram conta dos recreios e
invadiram as salas de aula. Os campos ficaram ao abandono. Sem alma, muitas
casas ameaçavam ruir de solidão e esquecimento. Os pais dessas crianças eram
agora os idosos da aldeia. Passavam o dia inteiro lamuriando-se. Já não queriam
saber de nada. Viviam dentro das casas, trancados nos seus problemas. Nem mesmo
os que ainda podiam caminhar, se atreviam a ir à rua. Arrastavam-se de ombros
descaídos, olhos postos no chão. Não ouviam os pássaros, nem o silêncio da noite, e tinham esquecido o
gesto de levantar a cabeça para olhar as estrelas…Muitos tinham emudecido, à
força de não usarem as palavras para se expressarem… Estavam a deixar-se
morrer. Tinham perdido os sonhos.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Um dia um jovem chegou à aldeia. Trazia estrelas nos
olhos e sonhos na voz. E uma concertina. Chegou ao adro da igreja, sentou-se no
meio do chão, com as pernas cruzadas e começou a tocar, com alma e entusiasmo.
Tocou, tocou, tocou, tocou… Nas janelas, algumas cortinas curiosas
levantaram-se cautelosamente, mas ninguém apareceu no adro. Ao fim de uma hora,
o jovem partiu, e no ar ficou o eco das músicas que os idosos identificaram,
depois de procurarem nos escaninhos da memória. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Naquela noite, muitos adormeceram com uma grande
nostalgia no coração. A nostalgia da felicidade.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Eram quase três horas da tarde quando, no dia
seguinte, a acalmia foi interrompida pela concertina do jovem. Ele tinha
voltado. Agora caminhava por todas as ruas e vielas, tocando a sua concertina.
Com um reportório renovado. E, ao fim de uma hora, partiu. Em todas as casas se
gerou agora um sobressalto: que fazia ali aquele rapaz? Que queria ele? Tocava
tão bem!</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Muitos recordavam os dotes musicais que tinham
deixado cair no esquecimento. Houve quem tivesse ido procurar os instrumentos
que havia tocado em jovem, e experimentado a firmeza dos dedos agora rígidos,
ou tivesse levado à boca os instrumentos de sopro…Houve quem tivesse começado a
trautear timidamente as cantigas que entoara em tempos…Houve quem pensasse que
não estava para cantigas…Houve que sentisse um estremecimento na alma…Houve
quem chorasse de emoção…Mas as portas continuaram fechadas.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Porém, em todas elas, a expetativa ia tomando conta
dos habitantes: voltaria o jovem no dia seguinte?</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Naquela noite, houve quem não conseguisse dormir… <b><o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Perto das 3
horas da tarde, adejavam cortinas impacientes por detrás das janelas das casas
que circundavam o adro. Nas outras, colocavam-se os ouvidos de atalaia, e descerravam-se
as janelas… Já passavam 10 minutos das 15 horas quando a música da concertina
do jovem o fez anunciar, antes da sua figura desembocar no adro. Um suspiro de
alívio de que só os próprios se aperceberam, soltou-se em uníssono dos peitos
expectantes. De repente, uma porta abriu-se, soltando um dolente queixume. E os
passos trémulos do ti Albano encaminharam-se para o meio do terreiro, onde
estava o jovem. O ti Albano encostou o violino ao pescoço, rapou do arco, e começou
a acompanhar a música que o jovem tocava. Os olhos do bom do velho estavam
húmidos. Não foram precisas palavras para os dois se entenderem. Já tocavam há
meia hora, quando a velha professora se aproximou timidamente com o seu
cavaquinho. E as duas irmãs que moravam no fundo da aldeia, vieram com as suas
vozes trémulas, mas ainda bonitas, acompanhar os músicos. E, já mesmo quase na
altura do jovem partir, também os velhos da casa amarela se juntaram ao coro. Passou
uma hora e o jovem partiu, sem uma palavra, deixando os idosos que se
aventuraram a furar a solidão forçada, cheios de perguntas. Envergonhados,
regressaram aos seus refúgios. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Naquela aldeia, algo estava a acontecer. Houve
janelas que se abriram e deixaram o sol penetrar pelas casas. Houve quem viesse
sentar-se na soleira da porta, à noite. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
No dia seguinte, quase todas as janelas se abriram, e
houve vizinhos que se saudaram. Havia sonhos a irromperem nas almas
abandonadas.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
À hora habitual todos estavam preparados para
receberem a música nos seus corações. Mas o jovem não veio. Nem no outro dia,
nem no outro, nem no seguinte. Houve quem chorasse de raiva, de desilusão.
Houve quem caísse à cama, sem coragem para se levantar. Houve quem dissesse que
já sabia que aquilo ia acontecer. Os aldeões sentiam-se traídos, sem saberem
explicar a si mesmos porquê, já que nada lhes fora prometido. Estavam agora
mais sós do que nunca. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Mas quando já o desespero corroía a esperança,
eis que soa a música da concertina. Desta vez, como se obedecendo a um sinal combinado, as portas abriram-se, e as pessoas saíram alegres para a rua. Poucas
foram as que ficaram em casa. Só mesmo as que não puderam arrastar-se.</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Hoje, passados que são dois anos sobre o aparecimento
do Xico na aldeia, custa a acreditar que aquela banda de rock da terceira idade
que toda a gente conhece, e que já ganhou alguns prémios, seja formada pelos
habitantes daquela aldeia que só estavam à espera de morrer. Os milagres
acontecem, se não perdermos a capacidade de sonhar. </div>
</div>
Eduardinahttp://www.blogger.com/profile/09317873005525507484noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7044730461723353766.post-38561806093115885622015-05-01T12:00:00.000+01:002015-05-01T12:00:13.717+01:00A minha estante<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-MqSH_nnfTyg/VUNbwJcPVxI/AAAAAAAAAa8/k-6tSNKJ4fY/s1600/livros%2Bem%2Bpele.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-MqSH_nnfTyg/VUNbwJcPVxI/AAAAAAAAAa8/k-6tSNKJ4fY/s1600/livros%2Bem%2Bpele.jpg" height="320" width="316" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Manifesto anti cultura? Credo! Eu cá não concordo com
nada disso! Eu acho que a cultura e os livros são muito importantes.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Por
acaso, aqui há coisa de um mês, enquanto o meu Quim lia o jornal, eu estava no
sofá, à espera de dar “ A Casa Segredos”, e de repente lembrei-me:</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
_Ó Quim,
já sei o que vamos pôr naquela parede! Há tanto tempo que andamos a pensar!
Vamos comprar uma estante, e depois enchêmo-la de livros!...</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
__Hem?
P´ra quê?</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
__Então,
alguma coisa temos de lá pôr! E tu gostas tanto de ler!</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Sabem,
o meu Quim está sempre a ler, a ler, a ler, sempre agarrado ao jornal. Eu cá
também gosto de ler, mas não é assim tanto como ele! Não passo horas a fio com
a cabeça enfiada na leitura, nem assino nenhuma revista, para quê? Sempre que
vou ao supermercado, pego nas revistas, leio os artigos que me apetecem, e até
tomo nota dos horários dos programas da televisão que quero ver!</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Bom,
mas isto para dizer : Lá o convenci a comprar a estante, e, agora, é um regalo
olhar para aquela parede, os livros todos encarreiradinhos, alinhadinhos…Na
primeira prateleira estão os de pele castanha com letras douradas, na segunda
os vermelhos e depois os azuis…Está mesmo linda de se ver…Claro que não ia lá
pôr aqueles livrecos que andam por aí, cada um na sua cor, uns grandes, outros
pequenos, não!...Isso é horrível!...Eu gosto de os ver assim, todos do mesmo
tamanho! A nossa sala ficou um espanto! Ah! A última prateleira ainda não tem
livros, porque a coleção de livros pretos com letras douradas, disse-nos o
homem que os vende, ainda vai tardar a chegar…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Já prometi a mim
própria que, um dia destes, até pego num, e vou começar a ler…E até sou capaz
de convencer o meu Quim, a começar, também ele, a ler um livrinho, e desistir
das assinaturas d´<i>A Bola,</i> do <i>Record,</i> do <i>Mundo Desportivo</i>… </div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
Então, já que cá estão,
e estão pagos, sempre se poupa o dinheiro das assinaturas dos jornais…</div>
</div>
Eduardinahttp://www.blogger.com/profile/09317873005525507484noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7044730461723353766.post-63018475983040968632015-03-31T14:50:00.000+01:002015-03-31T14:50:21.154+01:00Calou-se a voz<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-U981SHb5DQg/VRqk2bhkN2I/AAAAAAAAAak/56GFCI25vjw/s1600/passeio%2Ba%2BRoutar.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-U981SHb5DQg/VRqk2bhkN2I/AAAAAAAAAak/56GFCI25vjw/s1600/passeio%2Ba%2BRoutar.JPG" height="320" width="240" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Calou-se
a voz</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
A
voz que do seio da terra </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Irrompia
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Em
golfadas transbordantes</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
De silêncios</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Calou-se
a voz</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
A
voz ora branda, ora brava, </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Inquietante
e lúcida </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Nas
noites brancas </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Nas
madrugadas insones </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
e
translúcidas</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Calou-se
a voz</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
A
voz que ressoava pelas brenhas</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Escusas
e obscuras </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Onde
só o eco a agarimava</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
No
seu seio oblíquo e denso.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Calou-se
a voz</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
A
voz que mantinha</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Meus
saltos suspensos </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Sobre
os medos</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Calou-se
a voz</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
A
voz de mãos doces </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Que
me sustinha</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt;">Nos sobressaltos da morte. </span></div>
</div>
Eduardinahttp://www.blogger.com/profile/09317873005525507484noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7044730461723353766.post-89780517543632546612015-03-30T20:16:00.001+01:002015-03-30T20:16:55.573+01:00Débil coração<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-SyW20fdElLY/VRmgpLRU1HI/AAAAAAAAAaQ/IUK_r2ktll4/s1600/d%C3%A9bil%2Bcora%C3%A7%C3%A3o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-SyW20fdElLY/VRmgpLRU1HI/AAAAAAAAAaQ/IUK_r2ktll4/s1600/d%C3%A9bil%2Bcora%C3%A7%C3%A3o.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Caminha
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Na
manhã cálida e clara</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Pela
alameda </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Sob
a pérgula de lilases.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Vagueiam-lhe
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Pelas
costas </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Os
negros cabelos</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Brincam-lhe
no rosto</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Sob
a brisa branda </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Bailarinas
farripas</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Transparecem
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Sob
a camisa de bretanha </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Que
rasa o chão</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
E
se abre em leque </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Rodeando-lhe
o compasso </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Suas
longas pernas</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Caminha
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Absorta
na canção </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Que
lhe baila nos lábios</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Desvela-lhe
o sol </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Suas
doces transparências</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Acompanham-lhe
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
A
cadência dos passos suaves</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Os
seios soltos e ligeiros</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Assentam</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Sobre
o tapete relvado</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Alegres
os pés</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Breves
e descalços</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Rodeia-lhe
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Um
bracelete </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
De
campainhas bravas</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
O
pulso</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Aconchega
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
De
encontro ao peito</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Um
braçado silvestre de boninas</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Oh!
Meu débil coração!</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Que
por tão efémero</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Prazer
congeminas</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Ser,
num ai ligeiro,</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Esse
inseto </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
Que
pousa prazenteiro</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-left: 153.0pt; tab-stops: 153.0pt;">
No
branco braçado de boninas!</div>
</div>
Eduardinahttp://www.blogger.com/profile/09317873005525507484noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7044730461723353766.post-59286565566131462502015-02-17T18:02:00.002+00:002015-02-17T18:07:28.335+00:00Vozes ancestrais<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-q_F6HVJqrC8/VOOB_HXp2QI/AAAAAAAAAZk/vzjQJ6tNfKI/s1600/milheiral%2Bem%2Bloriga.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-q_F6HVJqrC8/VOOB_HXp2QI/AAAAAAAAAZk/vzjQJ6tNfKI/s1600/milheiral%2Bem%2Bloriga.jpg" height="244" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 7.1pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 7.1pt;">
Ouço as suas vozes que saturaram o ar de gemidos, gritos, e rezas. E de
desespero. E de esperança, de risos, de gargalhadas, de cânticos e louvores… Que
festejaram a vida, e, por vezes, a morte quando ela era libertação. Identifico-lhes
os rostos sulcados por uma vida difícil, as mãos rudes que semearam e plantaram
e colheram e distribuíram e alimentaram, amaram e perdoaram e amortalharam. E
limparam poucas vezes as suas lágrimas, suores e fezes, e muitas as lágrimas,
suores e fezes dos outros.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 7.1pt;">
E se deitaram em colchões de folhelho e de palha que eles próprios
semearam e plantaram e regaram, colheram e secaram, envoltos por linho que suas
mãos teceram. Colchões onde descansaram, e amaram, onde fizeram os seus filhos,
os deram à luz, e por vezes os amortalharam…
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 7.1pt;">
É quando caminho por espaços abertos, debaixo do céu que me cobre, rodeada
por árvores, a maioria já aqui estava quando nasci, que essas vozes se sobrepõem
aos ruídos longínquos da cidade, ao levantar da folhagem seca por uma brisa que
viaja, ao ladrar dos cães nos quintais, aos motores elétricos da regas ou dos
cortadores da relva, ao pipilar dos pássaros. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 7.1pt;">
Furam as fragilidades dos muros que a vida quotidiana à minha volta
ergue, e que eu mesma alimento. E é esse húmus que me corre nas veias tumultuosas,
e essas as vozes que ouço quando me calo, para que jamais me esqueça que sou
herdeira desses homens e mulheres onde essas vozes habitaram </div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 7.1pt;">
E sei então de onde venho, natureza de homens e mulheres ligados à terra
que no segredo do seu coração foram elaborando o milagre do renascer. Homens e
mulheres que sofreram injustiças e agravos, que caíram e se levantaram, que nos
escombros das suas fraquezas construíram os alicerces de uma fortaleza que os
preparou para as intempéries da vida.</div>
</div>
Eduardinahttp://www.blogger.com/profile/09317873005525507484noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-7044730461723353766.post-4011400352791283622014-09-03T16:21:00.000+01:002014-09-03T16:21:43.360+01:00Um lobo desastrado<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-INl5883xyUs/VAcxgeoOGWI/AAAAAAAAAYw/zTppThRVTeU/s1600/lobomau.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-INl5883xyUs/VAcxgeoOGWI/AAAAAAAAAYw/zTppThRVTeU/s1600/lobomau.jpg" height="320" width="281" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
À beira da floresta, não muito longe do povoado,
vivia na sua toca o Lobo Mau com a Dª Loba e os seus filhotes. Sim, sim, esse
mesmo…O tal que não consegue tirar da cabeça os três porquinhos… Pois o que
acontece é que o Lobo é agora pai de família, cheio de responsabilidades, e todos
os dias tem que sair para procurar alimento para a mulher e os lobinhos. Mas a
crise também chegou à floresta. A vida não está nada fácil, nada fácil, e agora
que a neve cobriu os campos, a caça não aparece assim à mão de semear…Ainda por
cima, o Lobo Mau está cada vez mais desastrado, e não consegue levar para casa
nada de jeito…Uma vez, ainda não há muito tempo, até ficou preso numa
armadilha…Se não fosse a Dora, a mãe dos três porquinhos, a estas horas já ele
estaria transformado em picado, a Dª Loba viúva, e os seus filhotes órfãos.…Humilhara-se
até mais não, para convencer a Dora a ajudá-lo a libertar-se… Fez um grande choradinho,
prometeu que nunca mais iria perseguir os três porquinhos, que ele trazia debaixo
de olho há tanto tempo, e que até os iria proteger do ataque dos outros lobos,
a ela e aos filhos…O que um pobre lobo tem que fazer para defender a pele…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Os filhos da Dora eram agora uns porquinhos
crescidos, rosadinhos, mas muito preguiçosos. Nunca mais se resolviam a ir
tratar da vida…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Os seus filhos, os lobinhos, eram ainda muito
pequeninos e precisavam de muitos cuidados….Lembrava-se muito bem das palavras
da Dona Loba:</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__Vê lá se, desta vez, trazes alguma coisa de jeito
para comermos! Os pequenos estão esfomeados. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__ Está bem. Está bem! </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Não podia falhar. Aproximou-se pé ante pé do
galinheiro da quinta do sr. Leonardo. Mas o lavrador estava à sua espera e
mandou-lhe uma chumbada. Pelos vistos, estava-se nas tintas para a lei
protetora dos animais... O Lobo correu, correu, correu, e só parou lá longe, já
fora do alcance da arma do homem. Apalpou-se, a certificar-se de que não lhe
faltava nenhum bocado, e lá se acalmou.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Que iria fazer à sua vida? Ele bem via o Lobo
Cinzento a rondar a Dona Loba, os olhares cobiçosos que lhe lançava. A tola não
percebia que o Lobo Cinzento só sabia afiar as garras, que não lhe serviam para
nada, e dizer umas larachas bonitas… Caçar não era com ele… Mas as mulheres, quando
lhes dizem palavrinhas doces ao ouvido, perdem a cabeça…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Sentou-se a descansar da correria, quando ouviu:</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__Quem tem medo do lobo mau, lobo mau, lobo mau…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Olá!...Escondeu-se atrás de uma moita. E viu passar,
em fila indiana, a saltitarem despreocupadamente, três porquinhos. Bem, de
porquinhos não tinham nada! Eram uns porcos bem matulões, crescidos,
rosadinhos, apetitosos! Afinal a sorte estava do seu lado. Oh não! Oh não! Não!
Não! Nãaaaaaaaaao! Eram os filhos da Dora! Não podia comê-los! Tinha prometido!
Mas as palavras da dª Loba ecoavam-lhe aos ouvidos:</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__Vê lá se, desta vez, trazes comida para casa! </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
E os lobinhos a gemer de fome, magrinhos, magrinhos…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
E o Lobo Cinzento a afiar as unhas, e a cantar loas à
Dona Loba… </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
No final de contas, ele podia sempre desculpar-se e
dizer que não sabia que eram os filhos da Dora…estavam tão grandes, desde a
última vez que os tinha visto…eles não traziam o bilhete de identidade
estampado na testa, pois não?…E quem lhe mandara a ela, acreditar em palavra de
lobo? Na cadeia alimentar, os lobos comem os porquinhos… Não se pode fugir à
natureza.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Decidiu-se e avançou para eles, cautelosamente. Mas, no
momento em que ia deitar as unhas a um deles, tropeçou e…CATRAPUM! aterrou no
chão, o focinho enfiado na neve. Os três irmãos desataram a fugir, cada um para
o seu canto, numa grande guincharia… O lobo levantou-se, sacudiu o pelo, olhou
em volta, não fosse alguém ver a triste figura que acabara de fazer, e disse:</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__ Não hão de perder pela demora…Amanhã não me
escapam. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Foi então que percebeu onde tinha tropeçado: num
caixote de couves que tinha caído da carroça dos produtos que o sr. Leonardo ia
todos os dias vender ao mercado. Juntou as couves que estavam espalhadas para dentro
do caixote, e disse:</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
__ Por hoje tenho que convencer a Dª Loba que a
comida vegetariana é muito mais saudável!</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-outline-level: 1; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
E voltou para o covil, arrastando penosamente as
couves que iriam ser a única coisa que os cinco iriam trincar.</div>
</div>
Eduardinahttp://www.blogger.com/profile/09317873005525507484noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7044730461723353766.post-33344897764202017332014-07-28T19:34:00.000+01:002014-07-28T19:35:23.296+01:00É hoje...<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-Vyw9suh9Qzo/U9aXIobtqRI/AAAAAAAAAYU/W-VKQyyKKGA/s1600/bolo-de-laranja-com-cascas-49392-1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-Vyw9suh9Qzo/U9aXIobtqRI/AAAAAAAAAYU/W-VKQyyKKGA/s1600/bolo-de-laranja-com-cascas-49392-1.jpg" height="229" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Vou fazer-lhe o bolinho de que ele gosta...é tão guloso…vai adorar a
surpresa, ai vai, vai! Hum! Tenho que bater mais um bocadinho, para ficar bem
fofinho… ele adora bolinho de laranja…com bastante raspa…assim, e assim…está
quase no ponto…Ai!.. Há tantos anos que aquele homem anda perdido! Foi comprar
as velas para o meu bolo de aniversário, e…nunca mais voltou! Ah! Faz hoje… 20
anos! Ai, já são horas, deve estar a chegar…He! He!He! He! Hoje disse o
responso direitinho, sem me enganar! Tenho muita fé no meu Santo Antoninho! É
hoje, que ele vai voltar!...É hoje! </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
A Marlene cabeleireira deu-me uns conselhos…Ai! Que vergonha! Mas ela lá
sabe! De homens percebe ela! Percebe quase tanto de homens como de cabelos…ou
mais ainda…eu até acho que ainda percebe mais de homens do que de cabelos…ela
lá os traz atrás, mansos como cordeirinhos…pois ele hoje não me vai escapar…Com
as lições da Marlene…Ai não vai, não! Já tenho tudo pronto…Eh! Eh! Eh!
Camisinha de noite, um perfume, e mais umas surpresas…Eh! Eh! Eh! Eh! Eu não
estava habituada a estas coisas, mas a Marlene é que sabe…ela garantiu-me que
ele não vai resistir…nem sei se ainda sei como se faz...Vinte anos, é muito
ano…Nunca mais nenhum me tocou…hoje vou tirar a barriguinha de misérias…Eh! Eh!
Eh! Eh!</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
E depois de estar consolada… ZÁS! Nunca mais há de ter vontade de ir às
gatas…</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
<span lang="EN-US">Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!
Ah! <i><o:p></o:p></i></span></div>
</div>
Eduardinahttp://www.blogger.com/profile/09317873005525507484noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7044730461723353766.post-64855933340185636572014-07-07T11:38:00.000+01:002014-07-07T11:38:23.861+01:00Terrine de lapin<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-8FjpfriOYPw/U7p4aoXoqXI/AAAAAAAAAYE/u3yHigUiAfs/s1600/Terrine+de+lapin.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-8FjpfriOYPw/U7p4aoXoqXI/AAAAAAAAAYE/u3yHigUiAfs/s1600/Terrine+de+lapin.jpg" height="180" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-right: 4.85pt; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Já não a
podia ouvir…” Tenho tanta pena de partir e deixar cá os grandes companheiros da
minha vida!”…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-right: 4.85pt; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Ingratidão, é o que é…Eu já lá trabalho há mais de
quarenta anos…ainda não tinha feito os dezasseis…E o que eu lhe tenho aturado!
Mas os grandes companheiros da vida dela eram os gatos…os gatos é que ela tinha
pena de cá deixar, quando fosse prestar contas a Deus…e que grandes contas é
que ela tem que prestar, ai tem, tem, tantas crianças com fome por esse mundo
fora, e ela :“ os meus amores, os meus filhinhos” para os gatos, claro…Credo,
isso até é pecado!... </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-right: 4.85pt; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Bem, verdade seja dita, que eu pensava muitas vezes :
“ a minha senhora tem razão! Se ela morre primeiro que os gatos…habituados a
tudo do bom e do melhor…” Eu gatos, puffff! Ainda se fosse um canarinho…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-right: 4.85pt; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Pois nem de propósito…andava eu fartinha de a ouvir, e
a morder a língua, para não lhe dar uma daquelas respostas, quando…pumba! Li
numa revista que trouxe a sobrinha da minha senhora…lá em África…ou seria na
Ásia? Já nem sei…pois, eu li, que lá nesses lugares, quando os mortos morrem,
não, quero dizer, quando os vivos morrem, eles…credo! Que selvagens!...comem-nos!
Eles pensam que, assim, ficam com a mesma sabedoria, força e inteligência
desses que comem…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-right: 4.85pt; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Pois a minha senhora comeu uma terrina de <i>lapã</i>…não, não é assim, é <i>terrine,</i> diz a minha senhora, é um nome
estrangeiro, que eu dessas coisas não sei, só fiz a 4ª classe…antiga, que vale
mais do que agora essas universidades onde não aprendem nada…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-right: 4.85pt; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Então fiz a <i>terrine
de lapã</i> sem <i>lapã,</i> está bem de
ver…tinha que ser qualquer coisa picada, que a carne era muito dura…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-right: 4.85pt; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Coitadinha da minha senhora!...Já anda mais animadita…
Os gatinhos sempre morreram antes dela, como ela queria…Claro, tive que lhe
dizer que os encontrei mortos no quintal, e que os da Câmara os vieram buscar
para os enterrar…ainda se aborreceu comigo, queria-os enterrados no jazigo da
família…felizmente que a sobrinha lá lhe fez ver que aquilo era um disparate…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-right: 4.85pt; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Ai o que ela chorou, Santa mãe do Céu! Ainda chora, de
vez em quando, a olhar para as fotografias dos gatinhos…Mas o tempo tudo cura,
não é verdade?</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-right: 4.85pt; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Bem… Deixa-me cá ir fazer o almocinho da minha
senhora…Hoje vai ser bifinhos com cogumelos…O que ela gosta de carne…Ai, eu
não! Enjoei, não sei porquê…carne, é coisa que me não atravessa os gorgomilos…</div>
</div>
Eduardinahttp://www.blogger.com/profile/09317873005525507484noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7044730461723353766.post-73951059293162115572014-05-05T01:41:00.000+01:002014-05-12T18:53:46.195+01:00Equívocos<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-y4I-0GJVJqc/U2bdiYbUCOI/AAAAAAAAAXo/Ww-3Iqf_ZCY/s1600/cora%C3%A7a%C3%B5+destro%C3%A7ado.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-y4I-0GJVJqc/U2bdiYbUCOI/AAAAAAAAAXo/Ww-3Iqf_ZCY/s1600/cora%C3%A7a%C3%B5+destro%C3%A7ado.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Ajeitou o colar em frente ao espelho. Acomodou o cabelo com a mão
direita, beliscou as faces, mordeu os lábios. Lembrou-se de um <i>bâton</i> que havia
comprado ainda a mãezinha era viva. Não se atrevera a usá-lo à frente dela, que
criticava aquelas garridices, mas às vezes, no seu quarto, experimentava-o, e
imaginava-se a sair com os lábios rosados, e os olhares que atrairia. Foi procurá-lo
numa caixa que estava dentro de uma gaveta da cómoda, passou-o pelos lábios, e
sorriu para o espelho. Num impulso, abriu ligeiramente a boca, e colou-a ao
espelho. Afastou-se um pouco, e contemplou o contorno dos seus lábios. De repente, pegou num bocado de papel higiénico e começou a esfregar a
mancha no espelho, com gestos que denunciavam irritação. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Pegou nos óculos e, no momento em que os ia colocar, hesitou. Abriu a
caixinha que estava em cima do armário da casa de banho, e guardou-os
cuidadosamente. Não ia precisar dos óculos para ir ao café. Era míope, mas
conseguia ver muito bem ao perto. Os óculos deformavam-lhe os olhos, que até
eram bonitos. Ficava com um olho muito maior do que o outro, com um ar
completamente patético. Ia tomar um cafezinho, talvez no café do rés-do-chão do
prédio. Ou talvez se aventurasse até mais longe. Logo se veria. Desde que a
mãezinha morrera, há três meses, que só saía ao domingo para ir à missa. O Sr. Leonel
da frutaria trazia-lhe a casa o que ela encomendava pelo telefone. De resto,
fora gastando o que havia na arca e na despensa. Mas agora, outro galo lhe
cantaria. Era tempo de começar a viver a sua vida. “ Hoje era o primeiro dia do
resto da sua vida”, como dizia a canção. Quem sabe, se ainda estaria em tempo
de…não era de se deitar fora...Nunca lhe faltaram pretendentes, isso não…Mas a
mãezinha…nenhum era suficientemente bom…e ela fora murchando…Ai o António
carteiro!…tão bonito, tão bom rapaz, a bichanar-lhe palavrinhas aos ouvidos
quando vinha entregar a renda do quintalito que a mãezinha lhe entregara para
cuidar. Uma vez apanhou-os, ele encostadinho ao seu ouvido a murmurar-lhe
doçuras, ela derretida de gozo, foi um caso dos trabalhos…Nunca mais o António
carteiro foi entregar as rendas…Passou a depositá-las no banco. Nessa altura
ainda a mãezinha vendia saúde… </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Em vez de tomar o elevador, desceu as escadas a pé. Desde que ficaram
encurraladas no elevador, <span style="line-height: 150%; text-indent: 21.3pt;">devido à falta de eletricidade,</span><span style="line-height: 150%; text-indent: 21.3pt;"> </span><span style="line-height: 150%; text-indent: 21.3pt;">ela e a mãezinha, nunca mais desceu de elevador. Chegou ao fundo das escadas com o coração a
palpitar, não sabe se do cansaço, se da ansiedade…</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Aproveitou para ver o correio. Como quase sempre, só publicidade. Não! Havia
um envelope! Azul claro, mais pequeno que os envelopes convencionais. Ercília
virou-o de um e outro lado. Estranho! Não estava endereçado, nem tinha
remetente. Abriu-o. Dentro, estava um bilhetinho, da mesma cor do envelope. Estava
escrito ao computador, em letra que imitava a manual. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
<i><span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Minha querida: <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
<i><span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Tenho esperado por si toda a minha vida! Continuo aguardando
um sinal seu para me aproximar</span></i><span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
<i><span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Não seja má! Não me despreze! Ainda podemos ser muito
felizes! Espero-a na pastelaria “Bom Sucesso”.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
<i><span style="font-size: 11.0pt; line-height: 150%;">Sempre seu,<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
A assinatura era um rabisco ilegível.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Ercília sentiu um calor atingir-lhe as faces e o corpo todo. Olhou em volta, mas não havia ninguém. Antes assim. Então ela era a querida de alguém sem saber? Alguém esperara por ela toda a vida… <i>“ Ainda podemos ser felizes”</i>… </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
A pastelaria <i>“ Bom sucesso</i>” ficava
a dois quarteirões…<span style="line-height: 150%; text-indent: 21.3pt;">Pois bem: não era tarde nem era cedo. Resolutamente meteu pés ao caminho.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Porém, sentia-se estranha. Nem sabia caminhar direito na rua, sem o apoio
da mãezinha, o seu braço enfiado no dela…</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Uma lagrimazinha apareceu-lhe no canto do olho…Não era altura para
dramatismos. Já chorara tudo o que havia para chorar. Agora era preciso voltar
à vida. À sua vida. Até ali vivera a vida que a mãezinha lhe impusera. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Ergueu a cabeça, endireitou o corpo, e avançou, decidida. Pouco depois
estava em frente da pastelaria “ <i>Bom
sucesso”.</i> Entrou, sentou-se numa mesa perto da entrada, respirou fundo, e
só depois o seu olhar varreu os clientes. A maioria pessoas de meia-idade, como
ela, e um grupo de quatro raparigas numa mesa. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Havia dois homens sozinhos. Um já bastante velho, que não tirava os olhos
do jornal. O outro, olhava para a porta, disfarçadamente. Era certamente o
homem do bilhetinho. O tal que esperara por ela toda a vida. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
O coração de Ercília bateu descontroladamente. Era elegante, e parecia
educado. Usava um <i>blazer</i> de bombazina
castanho, e umas calças claras de sarja. Ercília desviou o olhar. O empregado
aproximou-se e ela pediu um café. Atreveu-se a levantar os olhos, e continuou a
sua observação, tentando ser discreta. O homem tinha um bigodinho grisalho com
umas pontas bem aparadas. Quase completamente calvo, mas uma calvície que lhe
assentava bem. Agradava-lhe o que via. Percebia-se bem que estava nervoso, como
ela. Faria de contas que não tinha lido o bilhetinho. Ele que viesse falar com
ela. Bebeu o seu café, aparentando uma calma que estava muito longe de sentir. Em
seguida, pediu um copo de água, e foi bebendo calmamente. Mas ele, nada. Era
tímido, certamente, ou gostaria de fazer as coisas à antiga. Ai, como a
mãezinha o teria apreciado! Ele deitava os olhos na sua direção. Parecia-lhe
que sorria. Sorriu-lhe, também. E baixou os olhos. Quando os levantou, ele
dirigia-se para a sua mesa. Ercília sentiu-se desfalecer. Quando estava perto
dela, soltou um profundo suspiro, mas não parou. Saiu. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Ercília ali ficou, a respiração ofegante, como alguém que acabasse de
fazer uma longa corrida. Esperou, acalmou-se, pagou, e saiu. Nessa noite, não dormiu.
Pela cabeça passaram-lhe as imagens de tudo o que se passara. Certamente que
ele não tivera coragem de a abordar. Mas ela não tinha pressa. Ele prometia-lhe
a felicidade. Quem já tanto esperara, não se importava de esperar um pouco mais para ser feliz. “
Saber esperar é uma virtude”, era um dos lemas da mãezinha. Levantou-se muito
cedo, e começou a tirar medidas às janelas. Iria colocar cortinados novos na
sala e no quarto. Era muito importante renovar o quarto, comprar móveis novos, sim,
sobretudo uma cómoda nova, para as roupas dele, e…claro, uma cama de casal. Estava
fora de questão utilizarem a cama que pertencera aos paizinhos. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
A manhã passou-a a fazer limpezas profundas, a colocar no lixo trastes de
que nunca tivera a coragem de se desfazer. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Almoçou num alvoroço, mal conseguindo esperar pela hora do café na Pastelaria "<i> Bom Sucesso”.</i> Quando
entrou, já ele estava lá ao fundo, na mesma mesa onde se sentara no dia
anterior. Ercília sentou-se à entrada, mesmo virada para ele. Desta vez,
sentiu-se mais arrojada, foi olhando para ele sem desviar o olhar. Como no dia
anterior, ele sorriu-lhe discretamente. Ela sorriu-lhe abertamente. Questionava-se
se seria desta vez que ele teria coragem para lhe falar. Mas agradava-lhe
este namoro discreto, esta troca de olhares, como uma preparação para
cavalgadas mais arriscadas. De repente ele levanta-se, e ela pensa: é agora.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Mas não. Partiu, deixando-a como a uma criança a quem tiraram um
brinquedo. Estaria a pô-la à prova? </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Nessa noite, Ercília sonhou, sonhou e sonhou. Sonhou com o seu amor, com uma
vida venturosa de profundos arrebatamentos amorosos, e acordou feliz, alagada
em suor. E tomou uma decisão: se ele não viesse falar com ela, tomaria a
iniciativa. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Entrou na pastelaria, olhou em volta, e viu-o sentado ao fundo da sala, numa mesa protegida pela penumbra. Ercília não queria acreditar nos seus olhos: na mesa do
seu noivo, a sua vizinha do 2º andar, uma lambisgoia divorciada, de costumes
duvidosos, olhava-o como se o quisesse engolir. E ele, com um ar perfeitamente
idiota, não tirava os olhos dela, as mãos dele sobre a mesa, encaixadas nas
dela.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Sem se poder conter, Ercília avançou para eles, levantou a carteira, e malhou,
malhou, malhou em cima dele. </div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Felizmente para Ercília, o caso resolveu-se sem recurso aos tribunais. Teve
que apresentar um pedido público de desculpas, escudando-se no estado de choque
pela morte recente da mãe, e pagar uma indemnização ao queixoso.</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 21.3pt;">
Nunca mais saiu de casa. E quem olha para aquele terceiro andar, pode ver, pendurados nas janelas, uns farrapos velhos comidos pelo sol, que outrora já foram cortinas.</div>
</div>
Eduardinahttp://www.blogger.com/profile/09317873005525507484noreply@blogger.com0