Agarrei os meus sonhos
Inflamados e cegos
Calquei-os aos pés
Arrastei-os pela lama
Injuriei-os amordacei-os
Sepultei-os
No mais secreto escaninho
Das grades da memória
Para se desvanecerem em pó
E lancei a chave no fundo
Do pântano lamacento.
Olhei em redor
E vesti meus rostos de mentira
E nela construí a minha verdade
Entre iguais
Diluí-me na multidão.
Dentro de mim ecoavam
Cânticos fúnebres
E de pedra se fizeram meus sentidos
E um dia vi que estava morta.
Mas o vento passou
E tudo à sua volta se agitou
E em volátil rodopio aspergiu
Brisas perfumadas leves e macias
E acordou murmúrios e lamentos
E suspiros e sussurros
Cicios de rezas encantatórias
Em meus sentidos empedernidos.
E veio chegando a chuva
Ressoaram tambores
Longínquas reminiscências
De ancestrais ciências
E dancei nua à luz da lua
Danças antigas e tribais
Contagiadas por estranhos rituais
No meu corpo sábio gravados
Desde tempos imemoriais
Emboscados
Em meus saberes ignaros
Bebi dos pingos de chuva
A poção dos druidas
Pelo vento convocados
Ergui-me da noite
Em sobressalto
Quebrei as grades
E soltei meus sonhos ao vento
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Depois de muito esperar, talvez se desespere e deixe de se acreditar... mas não é para sempre porque somos feitos de vontades.
ResponderEliminarBjs
Sim, um dia acordamos e sentimos vontade e necessidade de voltar a acreditar, porque sem sonhos estiolamos.
ResponderEliminarBjs
Os meus sonhos "empedernidos" estão espelhados algures nos teus versos...
ResponderEliminarQuero estar na prineira fila quando for o lançamento do primeiro livro de poemas!
Beijocas e vai em frente.
Mila Lemos
Obrigada pelo comentário, Mila!
ResponderEliminarClaro que, se alguma vez chegar a publicar alguma coisa,estarás lá, ao meu lado, como os verdadeiros amigos.
Gostei. É bom soltar cá para fora os nossos anseios mais íntimos. A história das guerras está cheia de gente reprimida.
ResponderEliminarTem razão.Mas as prisões também se vão enchendo de gente que não se reprime...se for gente anónima, claro...
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