Que chuva horrível, logo hoje havia de estar um dia de Inverno, como é que logo havemos de ter a casa cheia, como tivemos ontem e anteontem, ontem ainda mais que na estreia, foi chato terem que mandar as pessoas embora, venham amanhã, já não há mais bilhetes, ah!, que viessem um quarto de hora mais cedo, já sabiam que as reservas só se guardam até um quarto de hora antes do espectáculo, não iam as pessoas ficar pespegadas à espera de entrar, ou mandá-las embora, porque havia bilhetes reservados que corriam o risco de não serem levantados porque os donos não apareciam, desculpa lá, deu-me uma dor de cabeça, apareceram visitas inesperadas à última da hora, isso é que era bom, agora já não caio nessa, já ninguém me toma por lorpa, mas chove, e continua a chover, e um arrepio… isto é psicológico, logo tinha que chover hoje, que precisávamos de ter gente a assistir ao espectáculo, não bastava o facto de ser domingo e amanhã dia de trabalho, o que desencoraja as pessoas a irem para a rua à noite, ainda tinha que vir esta chuva chata e deprimente a aborrecer…e a roupa que não seca, e a miúda precisa da roupa seca para levar, a farda, sobretudo a farda, como é que há-de ser, se aparece sem farda, a orientadora mói-lhe o juízo, parece que é perita a moer o juízo das estagiárias, ela devia era tratar-se, tem que se acender a lareira, vai a cheirar a fumo, mas paciência, a outra não se pode queixar do fumo, se a quer de farda, vai tê-la de farda a cheirar a fumo, isto não deve ser motivo para penalizar a cachopa na avaliação, não deve haver nenhum parâmetro sobre os cheiros das fardas, cheira a fumo, a sabão Alecrim, a amaciador do Lidl ou do Mini-Preço, ou a Chanel nº 5, isso é que era bom, mas pelo sim pelo não, o melhor é a pequena disfarçar o cheiro a fumo com o perfume das amoras de que ela gosta tanto, Mûre Sauvage, como diz o frasco, aliás, esse é o perfume que é a marca dela, da minha menina linda, às vezes, durante a semana vou ao quarto dela, abro o roupeiro e ponho-me a aspirar o perfume das amoras que está entranhado na roupa, e é tão bom, fecho os olhos e parece que ela está outra vez em casa, a inundar o silêncio com o seu perfume, mas é melhor acender a lareira, vou dizer ao meu homem, olha, parece que adivinhou os meus pensamentos, nem foi preciso eu falar, já está a acendê-la, para secar a roupa da menina, que vozinha tão melada põe ele para dizer menina , é bom quando o nosso homem nos adivinha os pensamentos, poupa-nos o latim, e se antecipa, em vez de estar a pensar, como eu, que há-de fazer, já está a fazer, os miúdos adoram o pai, que bom, adoro que adorem o pai, já que em miúda não tive grandes motivos para adorar o meu, antes pelo contrário, tinha pavor quando ele estava por perto, felizmente que não era muitas vezes, às vezes julgo que ainda estou traumatizada, mas já não me mete medo, tenho muita pena por ele não ter sido um paizão, agora já sou adulta, já era tempo de me deixar de traumatismos e de ganhar juízo, quando era miúda achava que quando crescesse seria uma mulher muito ajuizada e sem dúvidas nenhumas sobre nada, agora cada vez tenho mais dúvidas sobre quase tudo, e cada vez sei menos, e juízo ainda me falta algum, não sei se vou alguma vez adquirir todo aquele que devia pertencer a uma mulher adulta, quase sexagenária, por falar nisso, tenho é que ir fazer o almoço, o meu pessoal está aí a chegar para almoçar, e eu estou para aqui pasmada, a pensar na morte da bezerra, como é meu costume. Já chega.
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
Ao sabor dos pensamentos...
Que chuva horrível, logo hoje havia de estar um dia de Inverno, como é que logo havemos de ter a casa cheia, como tivemos ontem e anteontem, ontem ainda mais que na estreia, foi chato terem que mandar as pessoas embora, venham amanhã, já não há mais bilhetes, ah!, que viessem um quarto de hora mais cedo, já sabiam que as reservas só se guardam até um quarto de hora antes do espectáculo, não iam as pessoas ficar pespegadas à espera de entrar, ou mandá-las embora, porque havia bilhetes reservados que corriam o risco de não serem levantados porque os donos não apareciam, desculpa lá, deu-me uma dor de cabeça, apareceram visitas inesperadas à última da hora, isso é que era bom, agora já não caio nessa, já ninguém me toma por lorpa, mas chove, e continua a chover, e um arrepio… isto é psicológico, logo tinha que chover hoje, que precisávamos de ter gente a assistir ao espectáculo, não bastava o facto de ser domingo e amanhã dia de trabalho, o que desencoraja as pessoas a irem para a rua à noite, ainda tinha que vir esta chuva chata e deprimente a aborrecer…e a roupa que não seca, e a miúda precisa da roupa seca para levar, a farda, sobretudo a farda, como é que há-de ser, se aparece sem farda, a orientadora mói-lhe o juízo, parece que é perita a moer o juízo das estagiárias, ela devia era tratar-se, tem que se acender a lareira, vai a cheirar a fumo, mas paciência, a outra não se pode queixar do fumo, se a quer de farda, vai tê-la de farda a cheirar a fumo, isto não deve ser motivo para penalizar a cachopa na avaliação, não deve haver nenhum parâmetro sobre os cheiros das fardas, cheira a fumo, a sabão Alecrim, a amaciador do Lidl ou do Mini-Preço, ou a Chanel nº 5, isso é que era bom, mas pelo sim pelo não, o melhor é a pequena disfarçar o cheiro a fumo com o perfume das amoras de que ela gosta tanto, Mûre Sauvage, como diz o frasco, aliás, esse é o perfume que é a marca dela, da minha menina linda, às vezes, durante a semana vou ao quarto dela, abro o roupeiro e ponho-me a aspirar o perfume das amoras que está entranhado na roupa, e é tão bom, fecho os olhos e parece que ela está outra vez em casa, a inundar o silêncio com o seu perfume, mas é melhor acender a lareira, vou dizer ao meu homem, olha, parece que adivinhou os meus pensamentos, nem foi preciso eu falar, já está a acendê-la, para secar a roupa da menina, que vozinha tão melada põe ele para dizer menina , é bom quando o nosso homem nos adivinha os pensamentos, poupa-nos o latim, e se antecipa, em vez de estar a pensar, como eu, que há-de fazer, já está a fazer, os miúdos adoram o pai, que bom, adoro que adorem o pai, já que em miúda não tive grandes motivos para adorar o meu, antes pelo contrário, tinha pavor quando ele estava por perto, felizmente que não era muitas vezes, às vezes julgo que ainda estou traumatizada, mas já não me mete medo, tenho muita pena por ele não ter sido um paizão, agora já sou adulta, já era tempo de me deixar de traumatismos e de ganhar juízo, quando era miúda achava que quando crescesse seria uma mulher muito ajuizada e sem dúvidas nenhumas sobre nada, agora cada vez tenho mais dúvidas sobre quase tudo, e cada vez sei menos, e juízo ainda me falta algum, não sei se vou alguma vez adquirir todo aquele que devia pertencer a uma mulher adulta, quase sexagenária, por falar nisso, tenho é que ir fazer o almoço, o meu pessoal está aí a chegar para almoçar, e eu estou para aqui pasmada, a pensar na morte da bezerra, como é meu costume. Já chega.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário