"Todos os meus versos são um apaixonado desejo de ver claro mesmo nos labirintos da noite."
Eugénio de Andrade

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Nem olhaste para trás...

Esperas-me à entrada da nossa casa
A casa que ambos construímos com alma
A alma da nossa casa habitada em nós
Os nós com que prendemos os sonhos
Que esvoaçavam iluminados pela lua
A mesma lua que desenha as tuas coxas altas
Na camisa de noite transparente
Transparentes os teus olhos
Enquanto no coração se atropelam
Espessos e profundos presságios
Fitas a noite incendiada de desejos
Desejos flamejantes em tropel
Na noite solitária.
Ainda virás à porta da nossa casa
Sete noites a fio
Uma noite a seguir a outra noite
Sondando a escuridão
Os teus pés descalços caminham
Sobre um tapete de vidros
Mas tu nem notaste
Fizeste a mala e partiste nessa noite
A nossa casa ruiu atrás de ti

Nem olhaste para trás.

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