"Todos os meus versos são um apaixonado desejo de ver claro mesmo nos labirintos da noite."
Eugénio de Andrade

terça-feira, 17 de maio de 2011

O "Coin"



Sempre fui tremendamente distraída e despistada desde que me conheço.
Quando era mais nova, nas situações embaraçosas que a minha distracção me criava, pensava que um dia, com a idade, com a experiência, eu seria uma senhora, o que para mim significava, naquela altura, que eu ficaria curada desses despistes e distracções.
Mas, infelizmente, hoje reconheço que esses males não têm cura. A doença é crónica e irreversível, e até se tem vindo a agudizar com o decorrer dos anos. A única diferença é que agora eu consigo falar das tais situações, rir-me delas, contá-las às minhas amigas…Mas em relação aos meus filhos adolescentes, nem pensar…esses continuarão na ignorância destas minhas aventuras…Bem basta quando elas ocorrem debaixo dos seus olhos, e eu tenho que me sujeitar aos seus comentários implacáveis…
É que ninguém gosta de ter uma mãe ou pai tão totós, que param, por exemplo num cruzamento, a perguntar a um condutor: “ Vou bem para tal sítio? “ e, depois de terem ficado a saber que se enganaram, verem, chapadinha à sua frente, a placa a indicar a direcção que tinham acabado de perguntar.
Realmente é profundamente ridículo, e os adolescentes não perdoam aos progenitores situações destas.
Estou a lembrar-me de uma dessa situações em que os meus filhos não estavam presentes e eu fiz uma triste figura, — mas, felizmente, esta até foi bem disfarçada — e, claro, em casa, eu remeti-me a uma omissão pura e simples.
O “Fórum” abriu na minha cidade e eu resolvi ir até lá para dar uma vista de olhos, ver as lojas…
Como tinha aberto também o estacionamento subterrâneo, conduzi o meu carro até lá.
Nos estacionamentos subterrâneos pagos que costumo utilizar, há uma máquina que emite um cartão quando entramos no estacionamento, o qual, depois de efectuado o pagamento, se introduz noutra máquina que nos levantará a barra que nos permite o acesso à saída. Aqui, em vez do cartão, retira-se uma moeda verde, de plástico. Mais moderno, portanto.
Entrei no estacionamento e tive o cuidado de guardar a moeda numa das bolsas laterais da minha carteira, para depois não perder tempo à procura dela. Ao cabo de cerca de duas horas, fiz o pagamento. Recebi troco e um bilhete que estranhei não ser rígido, mas maleável. Peguei no automóvel e, depois de andar às voltas e não encontrar a saída, perguntei a um segurança que andava por ali numa moto 4,e ele respondeu-me:
— Okay, siga-me, por favor! Tem a sua “coin” ?
— “Coin”?! Não! Só tenho este bilhetinho que comprova o pagamento.
— Mas devia ter consigo uma moedinha verde. Não tem?
— Não! Certamente ficou na máquina!
— Em que máquina pagou?
— Naquela!
— Vamos lá ver!
Nada de “coin“!
— Bem, então… terá de se deslocar ao primeiro piso, ao “guichet” central e expor a situação.
Voltei a estacionar a minha viatura, e lá fui ao tal”guichet”central, onde estava uma menina no computador e outro indivíduo.
A menina explicou-me que, a ser assim, eu ia ter que pagar as horas do estacionamento desde as oito da manhã até àquele momento (seriam 18 horas ), mais cinco euros , que era o valor do “coin”.
Eu comecei a rir-me, de tão nervosa, e disse:
— Desculpe lá, mas isso é que eu não pago! Então se eu tenho aqui o talão que atesta as horas a que eu entrei, o tempo que cá estive, e que o pagamento está efectuado, hei-de pagar o estacionamento desde as oito da manhã até agora? Não pago!
Bem, a menina foi falar com o outro “fulano”, que veio, muito calmamente, explicar-me que eram normas da empresa, que eles eram funcionários, e que eu não tinha outro recurso, senão pagar.
— Então nesse caso o meu carro fica aqui e eu vou telefonar já ao meu advogado (faz muito bem ver muitos filmes), e ele dir-me-á o que hei-de fazer – disse eu, nervosíssima, completamente fora de mim, mas a tentar mostrar uma calma que estava muito longe de sentir. — E já lhe digo, é a primeira vez que aqui venho, e a última. Pelo menos estacionar aqui é que nunca mais.
— Faça o favor de me acompanhar, que eu vou falar com o meu chefe!
E lá vou eu, seguindo o homem, completamente ansiosa, nervosa, enfim...
Lá fomos ao piso não sei quantos, e o homem entrou lá num gabinete, e eu fiquei num “hall”, à espera da decisão suprema.
Pouco depois voltou com a decisão: só teria que pagar o “coin” (eu já estava a ficar irritada com o “coin”! Porque lhe não chamavam pura e simplesmente moeda, ou ficha, e tinham que ser tão parolos, com o “coin” para trás e para a frente, tendo nós em bom português, o seu correspondente?), que era cinco euros. Eu respondi que sim senhor, e o homem foi comigo junto da máquina para eu poder sair do estacionamento...
Antes disso o cavalheiro passou-me um recibo e disse-me que, caso o “coin” aparecesse, que poderia reaver o dinheiro, bastando, para isso, apresentar aquele impresso.
Passados dois dias, quando despejava o porta – moedas à procura de 50 cêntimos para o carrinho do supermercado, o que é que eu encontrei? Isso mesmo, o malfadado “coin”, misturado com as outras moedas. Sou ou não sou maluca?
Tinha guardado a moeda automaticamente, juntamente com o troco, e era capaz de jurar pela minha vida que nunca tinha retirado nenhum “coin” da máquina de pagamento!
É claro que me calei, e nada de vir fazer tristes figuras, entregando o “coin” a troco de uns miseráveis cinco euros sobretudo depois de ter “pintado a manta”, e de me ter sentido vítima de uma profunda injustiça!



2 comentários:

  1. :)) Também sou muito distraída... era capaz de fazer a mesmíssima figura! Essa de continuar a chamar coin à moeda,(normalmente até é ficha que chamam) é o máximo, rrrssss

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    1. Pois, isso do " coin" irritou-me solenemente...Mas
      sim, de facto é ficha que lhe costumam chamar.

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