A mãe tem a dor da tua ausência
A morar com ela…
Tem o eco dos teus passos
A ressoarem nas escadas
Aquele bater da porta
Quando por ela entravas,
O eco da tua voz a chamar por ela.
Tem a dor da tua ausência
Presente em cada gesto,
Em cada um dos segundos
Da sua vida
Subitamente desabitada de ti…
Na casa instalou-se o vazio.
Eras tu o seu esteio, a sua força,
O seu porto seguro…
Mesmo nos teus gestos mais ríspidos,
Nas tuas palavras mais impacientes,
Estavas tu, inteiro e material.
Acudia ao teu apelo,
Tocava-te, e estavas ali.
Custava-lhe a acreditar
Que o seu homem tão forte
Fosse feito de fraquezas.
E quando te abraçava
Sentia os teus ossos a furarem a
pele,
A confusão a turvar-te o discurso
sempre fluido,
A bengala mais pesada e titubeante…
Mas ignorava os sinais…
Partiste, e o vazio instalou-se.
Os gestos que ora inaugura
São tímidos, inseguros,
Perdidos do caminho
Que sempre para ela traçaste…
E eu sinto-a frágil, inquieta,
A soerguer-se do pesadelo da tua
partida,
Os passos inseguros, o olhar ainda
incrédulo…
Mas enquanto profundos suspiros
Lhe sobem do peito,
E a sua alma desliza nas lágrimas
Silenciosas que lhe correm pela
face,
Vai lentamente tecendo
Forças nas suas fragilidades
E eu sinto-me submersa de ternura…
Dói-lhe caminhar sem ti.
Dói-me sabê-la sem ti.
Dói-me…dói-me…dói-me.