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á lhe tinha dito várias
vezes que me não acordasse de manhã, que eu precisava de dormir. “ Porque não
dormes de noite, como toda a gente?” Sabem como é, partilhar o quarto com uma miúda
muito mais nova do que nós? Apesar de estar a passar férias na casa dela,
dormir no quarto dela, respeitinho! Eu adorava aquela prima, a sério! Mas a
adoração tem limites. E ela, às vezes, era chata, era mesmo muito chata.
Agradavam-me as noitadas, discotecas até quase de manhã. Estava no meu tempo.
Era jovem, precisava de me divertir. Mas ela dava-me cabo do juízo. Já não
bastavam os meus velhos…
De
manhã, quando eu ainda estava no primeiro sono, ouvia a persiana a subir, a
subir…Ainda por cima, aquela persiana fazia um estrondo danado…Depois, a
claridade irrompia a jorros pelo quarto adentro. Eu ficava irritadíssima, e,
com gestos bruscos, para que ela percebesse, tapava a cara com os cobertores, e
virava-me para o outro lado, sempre a resmungar. Pois sim! Nada a detinha!
Enfiava o gasganete pela janela, e gritava, com a sua voz estrídula, a chamar
os gatitos vadios que ela acolhera, e dormiam agora num caixote por cima da
garagem:
__Bichinhos,
bichinhos, bichinhos! Bichinhos, bichinhos, bichinhos!
E
nunca mais se calava. Mas um dia, calou-se de vez. A persiana caiu-lhe de
chofre em cima do pescoço, como uma guilhotina! Gostava tanto daquela prima!
Ainda
hoje não consigo perceber como é que as fitas das persianas rebentam logo com
um puxãozito.