À beira da floresta, não muito longe do povoado,
vivia na sua toca o Lobo Mau com a Dª Loba e os seus filhotes. Sim, sim, esse
mesmo…O tal que não consegue tirar da cabeça os três porquinhos… Pois o que
acontece é que o Lobo é agora pai de família, cheio de responsabilidades, e todos
os dias tem que sair para procurar alimento para a mulher e os lobinhos. Mas a
crise também chegou à floresta. A vida não está nada fácil, nada fácil, e agora
que a neve cobriu os campos, a caça não aparece assim à mão de semear…Ainda por
cima, o Lobo Mau está cada vez mais desastrado, e não consegue levar para casa
nada de jeito…Uma vez, ainda não há muito tempo, até ficou preso numa
armadilha…Se não fosse a Dora, a mãe dos três porquinhos, a estas horas já ele
estaria transformado em picado, a Dª Loba viúva, e os seus filhotes órfãos.…Humilhara-se
até mais não, para convencer a Dora a ajudá-lo a libertar-se… Fez um grande choradinho,
prometeu que nunca mais iria perseguir os três porquinhos, que ele trazia debaixo
de olho há tanto tempo, e que até os iria proteger do ataque dos outros lobos,
a ela e aos filhos…O que um pobre lobo tem que fazer para defender a pele…
Os filhos da Dora eram agora uns porquinhos
crescidos, rosadinhos, mas muito preguiçosos. Nunca mais se resolviam a ir
tratar da vida…
Os seus filhos, os lobinhos, eram ainda muito
pequeninos e precisavam de muitos cuidados….Lembrava-se muito bem das palavras
da Dona Loba:
__Vê lá se, desta vez, trazes alguma coisa de jeito
para comermos! Os pequenos estão esfomeados.
__ Está bem. Está bem!
Não podia falhar. Aproximou-se pé ante pé do
galinheiro da quinta do sr. Leonardo. Mas o lavrador estava à sua espera e
mandou-lhe uma chumbada. Pelos vistos, estava-se nas tintas para a lei
protetora dos animais... O Lobo correu, correu, correu, e só parou lá longe, já
fora do alcance da arma do homem. Apalpou-se, a certificar-se de que não lhe
faltava nenhum bocado, e lá se acalmou.
Que iria fazer à sua vida? Ele bem via o Lobo
Cinzento a rondar a Dona Loba, os olhares cobiçosos que lhe lançava. A tola não
percebia que o Lobo Cinzento só sabia afiar as garras, que não lhe serviam para
nada, e dizer umas larachas bonitas… Caçar não era com ele… Mas as mulheres, quando
lhes dizem palavrinhas doces ao ouvido, perdem a cabeça…
Sentou-se a descansar da correria, quando ouviu:
__Quem tem medo do lobo mau, lobo mau, lobo mau…
Olá!...Escondeu-se atrás de uma moita. E viu passar,
em fila indiana, a saltitarem despreocupadamente, três porquinhos. Bem, de
porquinhos não tinham nada! Eram uns porcos bem matulões, crescidos,
rosadinhos, apetitosos! Afinal a sorte estava do seu lado. Oh não! Oh não! Não!
Não! Nãaaaaaaaaao! Eram os filhos da Dora! Não podia comê-los! Tinha prometido!
Mas as palavras da dª Loba ecoavam-lhe aos ouvidos:
__Vê lá se, desta vez, trazes comida para casa!
E os lobinhos a gemer de fome, magrinhos, magrinhos…
E o Lobo Cinzento a afiar as unhas, e a cantar loas à
Dona Loba…
No final de contas, ele podia sempre desculpar-se e
dizer que não sabia que eram os filhos da Dora…estavam tão grandes, desde a
última vez que os tinha visto…eles não traziam o bilhete de identidade
estampado na testa, pois não?…E quem lhe mandara a ela, acreditar em palavra de
lobo? Na cadeia alimentar, os lobos comem os porquinhos… Não se pode fugir à
natureza.
Decidiu-se e avançou para eles, cautelosamente. Mas, no
momento em que ia deitar as unhas a um deles, tropeçou e…CATRAPUM! aterrou no
chão, o focinho enfiado na neve. Os três irmãos desataram a fugir, cada um para
o seu canto, numa grande guincharia… O lobo levantou-se, sacudiu o pelo, olhou
em volta, não fosse alguém ver a triste figura que acabara de fazer, e disse:
__ Não hão de perder pela demora…Amanhã não me
escapam.
Foi então que percebeu onde tinha tropeçado: num
caixote de couves que tinha caído da carroça dos produtos que o sr. Leonardo ia
todos os dias vender ao mercado. Juntou as couves que estavam espalhadas para dentro
do caixote, e disse:
__ Por hoje tenho que convencer a Dª Loba que a
comida vegetariana é muito mais saudável!
E voltou para o covil, arrastando penosamente as
couves que iriam ser a única coisa que os cinco iriam trincar.